sábado, 3 de novembro de 2007

Uma tragédia usada para manipular as opiniões



O lamentável acidente de ontem, junto ao Terreiro do Paço, que provocou dois mortos e um ferido muito grave foi imediatamente aproveitado para uma campanha despudorada por parte dos fundamentalistas do costume.

Sem cuidar de esclarecer as circunstâncias e causas do acidente, que ocorreu de madrugada num local desorganizado pelas obras do metro, partiu-se imediatamente para as acusações do costume aos automobilistas em geral, para a divulgação de números falaciosos e para a apresentação das soluções milagrosas.

Em vez de se discutir se havia ou não excesso de velocidade, se o sinal estava vermelho ou verde, se os peões respeitaram ou não a passadeira manipula-se os instintos mais primários dos cidadãos pelo recurso à divulgação dos detalhes mais escabrosos e fomenta-se uma atitude irracional em vez de propor a análise e a compreensão dos factos.

Os jornais tiveram um festim e encheram-se de títulos sensacionais:
"Acidente era uma tragédia à espera para acontecer"
"Maioria dos atropelados tem mais de 60 anos"
"Condutora acusada de duplo homicídio"
"Uma tragédia anunciada"
"Nem a doença as impediu de madrugar"

O Público titulava "Em Portugal há mais de 16 atropelamentos por dia". O DN era, apesar de tudo, mais comedido "Atropeladas 4 pessoas por dia em Lisboa e Porto". No contexto em que estes números eram apresentados o cidadão era levado a pensar que morrem 16 peões atropelados por dia. Tem que se dar ao trabalho de ultrapassar o título para ficar a saber que afinal, durante todo o ano de 2006, morreram realmente 137 peões em acidentes de viação (ou seja 0,4 peões por dia). O cancro do intestino grosso, por exemplo, mata 8 pessoas por dia em Portugal.

"Lisboa é a capital da insegurança", referiu o inevitável Manuel João Ramos, membro da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) ao Público e nós ficamos a pensar numa catástrofe. A verdade é que o relatório da DGV diz que morreram 11 (onze) pessoas por atropelamento em Lisboa durante todo o ano de 2006.

Esta manipulação tem o intuito de assustar os responsáveis políticos, que receiam ser acusados de negligência, e "flexibilizá-los" para aceitarem "soluções" como os dísticos da já famosa campanha "Risco Zero" ou a delimitação de "Zonas de 30 km/h".
Estas propostas são absurdas quando referidas a propósito do acidente em análise.
Este atropelamento, que todos lamentamos, seria evitado se o automóvel ostentasse o dístico de condutor perigoso ?
O local onde o acidente ocorreu tem velocidade máxima legal de 50 km/h. Alguém pensa que o acidente teria sido evitado no caso de o limite legal ser 30 km/h ?

Estamos perante mais um caso de descarada manipulação.

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P.S. Hoje dia 4, li no Público o anuncio de uma "homenagem às vítimas" promovida pela ACAM no local do acidente. Ao mesmo tempo invocava-se como co-responsáveis do acidente a CML e o Metro.
Trata-se de uma iniciativa repugnante destinada a tirar partido político de uma tragédia alheia.

13 comentários:

Anónimo disse...

por favor, acho que neste caso já está a ir longe demais. O facto de pretender até nesta situação dar a volta à questão é de um mau gosto impressionante.

Não sou nenhum fundamentalista anti-automóvel, mas acho que todos (todos mesmo) devemos aproveitar este acidente para repensar os excessos que vemos todos os dias nas estradas.

Neste domínio, infelizmente Portugal continua a dominar os rankings europeus - e não por olhar para o conta-quilómetros e depois estão desconcentrados e causam acidentes.

Ainda se questiona se havia excesso de velocidade? Acha mesmo que a senhora cumpria os limites?

O que mais se pode dizer quando se lê coisas como "O cancro do intestino grosso, por exemplo, mata 8 pessoas por dia em Portugal", argumento usado para relativizar o número de peões mortos em Portugal ..... é apenas triste.

Acho abjecto instrumentalizar tudo o que lhe apareça à frente para a sua "causa". Há limites para tudo.

F. Mendes

F. Penim Redondo disse...

Eu limito-me a dar os números correctos porque odeio manipulações mesmo quando são por boas causas.

Por exemplo a sua afirmação de que "Portugal continua a dominar os rankings europeus" é mais uma manipulação.

Porque é que Portugal havia de estar bem colocado no ranking dos acidentes se não está bem colocado na generalidade dos indices económicos e sociais ?

A posição de Portugal no ranking europeu dos acidentes é abolutamente normal de acordo com o nosso nível de desenvolvimento.
Pela mesma razão o Brasil está muito pior do que nós.

Foi anunciado recentemente que Portugal é um dos países que mais reduziu a sinistralidade nos últimos anos mas aqui continuamos a ouvir todos estes excessos apenas porque houve um atropelamento espectacular.

Irritam-me estas ideias feitas que se banalisam para servir objectivos pouco claros.

Parece-me que já há muita gente a viver dos acidentes e que precisa, para viver, de empolar cada vez mais os acidentes.

Anónimo disse...

então no segundo parágrafo começa por afirmar que eu, ao dizer que Portugal lidera os rankings europeus de sinistralidade, estou a manipular os números.

Depois, justifica essa "liderança" com o atraso nos índices económicos e sociais.

Ou seja, ao justificá-los, está a confirmar que os números existem e estão correctos (ou seja, não manipulados).

E sim, é verdade que os índices de sinistralidade se reduziram em Portugal. E aos poucos vai-se sentindo algum civismo no trânsito (p. ex. o aumento dos carros que param nas passadeiras - mas ainda é insuficiente, a meu ver).

Mas isso não quer dizer que os números actuais não continuem a ser muito chocantes - a um nível europeu (De certeza que encontrará alguns países no mundo com números são piores - mas isso não quer dizer que os nossos não sejam de envergonhar).

Acredite que um acidente destes teria repercussões bem mais graves na Alemanha ou em Espanha(realidades que conheço por lá ter vivido). Onde estão os excessos que refere? Hoje já quase não se falava do acidente nos jornais ...

Preocupemo-nos (ambos) com os excessos provocados pelos condutores - são os mais graves (e sim, tb sei que existem peões que exageram, mas não comparemos a forças). Acredite, não há uma campanha orquestrada para lhe retirar os direitos sobre o volante. Sobretudo, não banalize a sua vitimização.

(o último parágrafo já descamba para o facilitismo, ao apontar o dedo de forma insultuosa e com mau gosto - acho que não será necessário comentar).

F. Mendes

Anónimo disse...

Uma atitude séria seria, neste caso, procurar perceber as causas do acidente.
Porque é que o automóvel se descontrolou naquele local ?
Trata-se de uma recta, antes dos tapumes das obras. Os peões tiveram algum comportamento imprevisto ? O chão estva molhado ? A condutora vê mal ?
Se ía demasiado depressa porque é que isso aconteceu ?
A condutora adormeceu ? Estava apenas apressada e como às 5 da manhã há pouco trânsito abusou ?

Enquanto não se investir neste tipo de investigação; enquanto a preocupação for acusar alguém para tirar dividendos políticos não tomaremos as medidas correctas.

Anónimo disse...

Eu acompanho o seu blog com interesse e até assinei a sua petição. Nem sempre concordo consigo, mas acho que agora passou um pouco das marcas. Então tem dúvidas que a condutora estava em excesso de velocidade? Acha que a 50 km/h se perde controlo do carro e só se para a 150 metros de distância? Tenha algum decoro na argumentação. Uma coisa é estarmos de acordo que algumas vias tinham os limites demasiado baixos (como o prolongamento da João XXI) a outra coisa é estarmos a fazer sistematicamente e sem inteligência o papel oposto dos que são a favor dos radares. É infantil achar que este acidente não foi devido ao excesso de velocidade - este local não tem nada a haver com a João XXI e você sabe isso muito bem. Pelo menos devia saber e se não sabe é irresponsável. É preciso descaramento da sua parte duvidar de dezenas de testemunhas no local. Para quê? Porque para a sua "causasinha", que eu pensava partilhar, é um acidente que não lhe dá jeito nenhum?! Tenha respeito pelas vitimas e pelas famílias das vitimas. Espero estar a falar por parte dos 10,000 que assinaram para lhe pedir algum pudor. Há momentos que fica bem, parar.

Todos sabemos também, até quem como eu assinou a petição, que Portugal tem as estatísticas que tem, comparar com o Brasil é insultuoso para quem o lê e extremamente manipulador. O facto de termos melhores estatísticas rodoviárias que o Brasil ou a Malásia não nos tira do lugar que temos na Europa. Como Português, devia ter a ambição de se comparar com o resto da Europa e não com países que estão piores que nós.

Aliás repare que não teve a lata de negar nenhum dos números que cita da imprensa. Noto é que está chateado porque não calha nada bem este assunto andar nas primeiras páginas dos jornais. Tenha decoro, se não quer ficar igual aos fundamentalistas que combate.

Henrique Torres

Anónimo disse...

Caro Henrique Torres, o seu jogo é demasiado óbvio para convencer alguém de boa-fé.
Tenha juízo...

Anónimo disse...

Caro f. Penin Redondo

Devia simplesmente ter vergonha !

Estas pessoas forma mortas e esquartejadas, sim esquartejadas, porque ficaram cortadas aos bocados, na tão famosa Av. Infante D. Hnerique, aquela que defende na sua petição que devia ter um limite de 80 em vez de 50.

Veja as imagens na SIC e diga lá que este atropelamento brutal não tem nada a ver com o velocidade.

Aliás devi-se sentir-se, porque moralmente é co-responsável por este crime (ponto de vista pessoal e não jurídico !) ao defender limites absurdos e inapropriados numa via urbana.

Aconselho-o também a mostrar a sua petiação e os seus comentários, disponíveis neste blog aos familiares das vítimas.

Que não tem bom senso, já tinha percebido, agora ao menos poderia mostrar um pouco de respeito por pessoas que deslocando-se antes das 6 da manhã para o seu local de trabalho forma esquartejadas por causa .... DA VELOCIDADE !

F. Penim Redondo disse...

Caro João,

como eu tenho dito e redito os radares não resolvem nada.
O radar da Infante D. Henrique está a vários kms de distância do local do acidente.

O seu comentário é o comentário de um imbecil.

Anónimo disse...

Passando a citar:

"Em vez de se discutir se havia ou não excesso de velocidade, se o sinal estava vermelho ou verde, se os peões respeitaram ou não a passadeira manipula-se os instintos mais primários dos cidadãos pelo recurso à divulgação dos detalhes mais escabrosos e fomenta-se uma atitude irracional em vez de propor a análise e a compreensão dos factos."


"O local onde o acidente ocorreu tem velocidade máxima legal de 50 km/h. Alguém pensa que o acidente teria sido evitado no caso de o limite legal ser 30 km/h ?"

Ora coloca em causa se exisitiu ou não execesso de velocidade. Veja por exemplo o link :
http://www.dem.ist.utl.pt/acidentes/para/investigacao.html

Sabia por acaso que num atropelamento a 30 km/h uma jovem de 18 anos (comoera o caso de Neuza, a vítima esquartejada) tem 95 a 100% de probalilidade de sobreviver. E a 50 km/h tem 50-60%. Agora diga lá qual a probabilidade que tem de sobreviver se for atropelada a 80 km/h. E para ficar esquartejada qual terá de ser a velocidade ?
Ora se o problema são os radares então defende o quê ?
Uma passadeira sobreelevada no local ?

E por acaso leu as notícias, que referem que as pessoas foram atropeladas quando estavam no refúgio. Se calhar só se pode parar nos refúgios quando o sinal está verde para os peões.

E o imbecil deste lado, volta a dizer que o considera co-responsável por estas situações ao desresponsabilizar a VELOCIDADE, em particular na Av. Infante D. Henrique !

Anónimo disse...

Não sei se o João é imbecil ou se é desonesto. Demagógico é sem duvida.

O que é que interessa se as pessoas foram "esquartejadas" ou se "iam trabalhar às 6 da manhã" ?

O que é que isso acrescenta à discussão ? Morrer esquartejado não é melhor nem pior do que morrer queimado. Morrer às 6 da manhão é o mesmo que morrer às 11.
O João é apenas mais um dos tais fundamentalistas idiotas que aposta sempre na irracionalidade para atingir os seus fins.

É claro que o carro devia ir bastante depressa mas tal como excedeu os 50 também excederia os 30 km/h. Não é o limite legal que impede as pessoas de fazer as asneiras.
Talvez o João queira instalar 100 radares ao longo de toda a Infante D. Henrique. Se calhar é o dono do fornecedor dos aparelhos.

Anónimo disse...

Para os distraídos o Cordeiro, o Penim e a Carolina são todos a mesma pessoa - um Penim que desde que foi ameaçado de um processo, usa pseudónimos para insultar e dizer disparates ainda mais delirantes que o próprio. Um Penim que rasteiramente tem vergonha de assinar tudo o que diz.

Enxergue-se homem e tenha tomates para assumir o que escreve.

Miguel Araújo

Anónimo disse...

O Miguel Araujo já nem distingue os sexos, está mesmo obnubilado.

Anónimo disse...

Ainda gostava de saber se a psicóloga que atropelou na Infante D. Henrique foi multada no radar que existe na mesma rua mas a alguns kilometros de distância.
Se calhar até passou no radar a 50. Isto prova realmente a ineficácia dos radares.