sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Uma questão de equilíbrio

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Há muitos anos, num passeio ao Buçaco, encontrei um professor do liceu de Gaia que sustentava a tese de serem todas as doenças mentais redutíveis a problemas intestinais. A depressão, a esquizofrenia, a paranóia, a doença bipolar, tudo o que possa caber na categoria da saúde mental, não passaria, ao cabo e ao resto, de mau funcionamento dos intestinos, de refluxos gástricos que se projectariam nas ondas cerebrais, fazendo-as correr tortas. Corrigida a prisão de ventre, ia-se a mania da perseguição; sanada a diarreia, acabavam-se os maus humores…
Era uma excepção. A generalidade das pessoas que eu conheço atribui o bem-estar e a saúde a um equilíbrio geral da mente e do corpo que pressupõe uma atenção diversificada e dirigida a cada uma das suas partes. Não se cuida da saúde tratando só do fígado ou concentrando obcecadamente todo o cuidado na prevenção das doenças da bexiga. Há que levar em linha de conta o conjunto e o equilíbrio de todas as partes que o formam.
Estranhamente, esta linha razoável de raciocínio não prevalece quando falamos de doenças sociais. Uma percentagem muito significativa dos cidadãos pensa nos problemas da comunidade como o professor do liceu de Gaia pensava nos intestinos. Atribui todos os males do mundo a uma causa só e entrega-se generosamente ao seu combate. Usualmente, vai mesmo mais longe e atribui a uma única causa a causa única dos males do mundo.
São os defensores de causas.
Por exemplo, a Associação dos Cidadãos Automobilizados atribui toda a humana infelicidade aos acidentes de viação e estes, ao excesso de velocidade. Assim, com fé genuína e piedosa, acredita cegamente que o paraíso terreal chegará com o advento dos semáforos nas auto-estradas e dos radares e das lombas limitadoras de velocidade, em todos os caminhos vicinais que liguem duas quaisquer habitações da ilha do Corvo.

Texto publicado no Blogue "Funes, el memorioso" em 27.11.2007

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Distracções ao volante


Nunca será demais alertar para as distracções como causa dos acidentes.
Clique na imagem para ver um divertido filme alusivo ao tema.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

GNR de Ovar apreendeu 13 automóveis que se dedicavam ao street racing na A1

Corridas ilegais decorriam habitualmente nas noites de domingo para segunda-feira, com concentração de condutores e assistentes na área de serviço de Antuã

Para conseguir apreender as viaturas de street racing, por condução perigosa, as autoridades policiais encetam vários meses de investigação, normalmente, com agentes infiltrados junto do local das corridas, recolhendo provas que confirmem o ilícito criminal. Podem ainda actuar ao abrigo da Código da Estrada, autuando as alterações às características dos veículos ou as situações de excesso de velocidade.

a O destacamento da GNR de Ovar procedeu, durante a madrugada de ontem, à apreensão de 13 viaturas que estavam referenciadas pela prática de corridas ilegais na Auto-Estrada do Norte (A1). A operação, que contou com o apoio do destacamento de Oliveira de Azeméis e da Brigada de Trânsito de Aveiro, resultou de uma investigação criminal que vinha decorrendo desde Março. Os proprietários e condutores dos veículos foram já constituídos arguidos e segundo garantiu fonte policial a investigação irá prosseguir, não estando descartada a possibilidade de virem a ser realizadas mais apreensões.
As averiguações encetadas pelo Núcleo de Investigação Criminal do destacamento de Ovar, há já vários meses, confirmavam a prática daquilo que é designado como street racing na A1, na zona da área de serviço de Antuã, normalmente nas noites de domingo para segunda-feira. Sempre sob a atenção de muitos assistentes - que se apinhavam nas passagens superiores ou junto à estação de serviço - e com viaturas a circular a velocidades superiores a 200 km/h. Ontem de madrugada, a GNR conseguiu surpreender alguns dos veículos e condutores referenciados.
Numa primeira fase, a operação policial, que envolveu cerca de 80 militares da GNR, centrou atenções no local normalmente usado pelos condutores e assistentes para se concentrarem antes das corridas, em Oliveira de Azeméis. Chegados à zona do pavilhão da Oliveirense, os efectivos procederam à identificação de alguns condutores e assistentes, procedendo também "à apreensão de duas viaturas que estavam indiciadas pela prática de condução perigosa", adiantou o major Manuel Afonso, do destacamento de Ovar da GNR.
Depois desta primeira acção, que se estendeu entre as 23h30 de anteontem e as 01h de ontem, a GNR realizou depois, a partir das 7h, várias buscas em residências de Estarreja, Ovar e Albergaria-a-Velha, apreendendo mais 11 veículos referenciados por condução perigosa. "São viaturas que atingem velocidades de 200 km/h, e algumas que chegam aos 300", especificou o comandante do destacamento responsável pela operação.
Esta prática de corridas ilegais na A1 não é caso exclusivo no distrito de Aveiro. Durante vários anos, o destacamento de Aveiro da GNR detectou problema semelhante na Zona Industrial da Mota, Ílhavo. Nas noites de sexta-feira e sábado, o local chegava a registar uma afluência de várias centenas de pessoas, entre público e condutores participantes.
As corridas naquela zona chegaram a acabar em tragédia: um choque entre duas motos provocou, em 2004, um morto e quatro feridos. No caso das corridas da A1, as autoridades garantem que aquela prática já esteve na origem de um despiste de um automóvel que foi surpreendido pelas manobras dos street racers.

Público, 27.11.2007
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Assim é que eu gosto, perseguir quem merece ser perseguido.

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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Carros sem o seguro obrigatório

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Só no primeiro semestre deste ano, 49 pessoas morreram e 456 ficaram feridas em acidentes com carros sem o seguro obrigatório. São dados do Fundo de Garantia Automóvel. Só no primeiro semestre de 2007, foram abertos mais de 2800 processos a acidentes com automóveis sem seguro. Entre eles, estão 186 casos de contramão e 36 atropelamentos.

A maior parte dos acidentes com viaturas sem apólice válida resulta, no entanto, apenas em danos materiais. Nestes casos, cabe ao Fundo de Garantia Automóvel a tarefa de indemnizar as vítimas.

De acordo com este organismo, não é fácil identificar os condutores sem seguro nas estradas portuguesas e, muitas vezes, nem as autoridades policiais estão em condições de ajudar, por falta de meios.

A solução para o problema pode passar pela intimidação dos infractores e pelas novas regras do seguro automóvel. Segundo a nova legislação, os veículos envolvidos em acidentes que não tenham os documentos em dia são apreendidos e podem, mais tarde, ser vendidos em hasta pública.

Além disso, subiram os montantes mínimos da responsabilidade civil. Passaram para 1,2 milhões de euros, nos casos em que os acidentes provocam danos corporais e para 600 mil euros para os danos materiais.

SIC Online, 26-11-2007

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Aqui está um assunto que merecia mais atenção das autoridades

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domingo, 25 de novembro de 2007

Uma importante medida na redução dos acidentes

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Mais de 900 quilómetros de novas estradas, dos quais cerca de 550 em perfil de auto-estrada, integram o pacote rodoviário que o Governo se prepara para lançar até meados de 2008. Consideradas prioritárias pelo Executivo, as sete concessões vão ser desenvolvidas pela Estradas de Portugal SA em regime de parceria público-privado. A concessão da Auto-estrada Transmontana e a concessão do Douro Interior foram já aprovadas quinta-feira em Conselho de Ministros.
Com 130 quilómetros novos em perfil de auto-estrada (2 x 2 vias com separador central), a Auto-estrada Trasmontana representa um investimento de cerca de 400 milhões de euros, 250 milhões dos quais garantidos por fundos comunitários.
Nas próximas semanas deverão ser lançadas ainda as concessões do Baixo Alentejo e do Baixo Tejo, enquanto a Auto-estrada do Centro e a Litoral Oeste serão colocadas a concurso nos primeiros três meses de 2008. Para a segunda metade do próximo ano será a vez da concessão do Alto Alentejo, com cerca de 100 quilómetros de nova estrada. Deste programa de concessões fazem parte os concursos do Túnel do Marão, em cuja «short-list» estão a Brisa e a Somague, e do Douro Litoral, adjudicado provisoriamente à Brisa mas objecto de reclamação do grupo Mota-Engil.
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Esta notícia do Expresso de 24 de Novembro é uma excelente notícia.
Fará mais pela redução dos acidentes de viação do que as centenas de radares planeados pelo MAI.
A demonstração está feita com a transformação do IP5 em A25: redução do número de mortos em 76%.

Fogo de artifício rodoviário

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O Jornal de Notícias publicou ontem este fogo de artifício sob a forma de prevenção rodoviária. À falta de estudo e planeamente avança-se com fogachos, motivados pelo medo de que este ano o número de mortos possa ser maior do que em 2006 e "caiam na lama" os parentes do governo.
Como continua a não se saber o que realmente causou os acidentes aplica-se a receita "mais do mesmo" e lá vêm os famigerados "excesso de velocidade e o alcool".


Fiscalização reforçada para travar acidentes

Mais polícias nas estradas, mais radares de controlo de velocidade, maior articulação com os meios de socorro. Fiscalização intensiva e uma presença policial de forte visibilidade são os principais objectivos de uma operação especial de segurança rodoviária que arranca amanhã e se prolonga até 7 de Janeiro. Preocupado com os índices de sinistralidade que se agravaram nas últimas semanas, o Governo deu instruções a seis entidades para conjugarem esforços e ao longo da próxima semana estão previstas novas medidas para tentar a todo o custo travar as estatísticas negras deste ano.

Para depois de amanhã está marcada uma reunião com a Associação Nacional de Municípios Portugueses, no Ministério da Administração Interna (MAI), com vista à definição de medidas à escala local. Até final da semana será entregue aos parceiros a Estratégia de Nacional de Segurança Rodoviária. Nos primeiros dias de Dezembro é a vez de ser anunciada uma operação ainda mais intensiva para o período natalício. Pela primeira vez, esta operação integra o INEM, tutelado pelo Ministério da Saúde, e define os mesmos prazos para todas as forças de segurança.

Estradas de Portugal, INEM Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária e Protecção Civil são quatro das entidades envolvidas na operação, incluída no pacote de dez medidas especiais anunciado pelo Governo no dia seguinte ao acidente na A-23. A acção mais repressiva cabe, naturalmente, às forças policiais.

Velocidade e álcool

Condução sob efeito de álcool e com excesso de velocidade são duas prioridades de fiscalização partilhadas pela PSP e pela GNR. Numa segunda linha também não divergem as infracções sujeitas a olhar mais atento utilização indevida de telemóveis, falhas no uso de cintos e sistemas de retenção para crianças, estacionamentos em passadeiras e falta de habilitação legal para conduzir. Até início das férias lectivas, a GNR promete ainda especial incidência sobre o transporte colectivo de crianças.

"Apesar de haver menos acidentes e menos feridos, no final do ano tem vindo a assistir-se a um aumento de mortes", explica o porta-voz do comando-geral da GNR, coronel Costa Cabral, para contextualizar os objectivos da chamada "Operação Viagem Segura". Segundo os últimos dados disponíveis, este ano contam-se já 768 vítimas mortais, mais 45 que no ano passado.

Ambas as forças de segurança explicam que os radares serão uma ferramenta essencial, embora insistam na mensagem de grande visibilidade dos meios. Pedro Moura, chefe de Divisão de Policiamento e Ordem Pública da PSP, salienta que essa visibilidade é "factor de dissuasão e prevenção da sinistralidade".

No caso da PSP, com áreas de intervenção urbanas, a fiscalização em zonas de diversão nocturna integra a lista de preocupações. Elementos habitualmente empenhados no programa Escola Segura e agentes do Corpo de Intervenção (ver números) são as duas principais "fontes" da PSP para reforçar o patrulhamento. A GNR prefere sublinhar que "todo o dispositivo é envolvido", não adiantando números.

A segurança rodoviária é um dossiê que promete continuar a dar que fazer ao Governo. A extinção da DGV, que se arrastou até início deste mês, bloqueou a actividade da recém-criada Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Por outro lado, está por conhecer a prometida revisão do Código da Estrada, necessária para a reforma do sistema de contra-ordenações. A Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, por seu turno, depois de trabalhada pelos parceiros será ainda sujeita a discussão pública, antes da aprovação em Conselho de Ministros. Para essa fase, no primeiro semestre de 2008, está prometida a realização de Estados Gerais sobre o tema.

Verbas para comprar "kits" de fiscalização de drogas

Enquanto não fica concluído um concurso internacional destinado a adquirir equipamentos para rastreio na saliva de substâncias psicotrópicas,

a PSP e a GNR receberam instruções para adquirirem directamente as unidades de que necessitem. Esta é uma das compras financiadas por um reforço extraordinário de verbas atribuído este mês às duas forças de segurança - um milhão de euros cada. O concurso procurará, posteriormente, "cobrir as necessidades por um período estimado de um ano". Recorde-se que, a 15 de Agosto, foram distribuídos cerca de cinco mil "kits" descartáveis às polícias, mas o JN não obteve resposta quanto ao número de testes efectuados até ao momento. Os dados fornecidos pelo Ministério da Administração Interna reportam-se apenas ao período até 30 de Setembro, no caso da GNR (887 testes, dos quais 33 positivos) e até 15 de Setembro, no da PSP (273 testes, 10 positivos).

sábado, 24 de novembro de 2007

Num único dia



(clique as imagens para ampliar)

No dia 23 de Novembro, num único dia, o Diário de Notícias publicava uma mão cheia de notícias sobre acidentes de viação que nos podem ensinar muito acerca dos temas do meu último post: acidentes com causas invulgares, inevitáveis ou erradamente interpretadas. Mostra também a infinita variedade de situações que levam aos acidentes.

Desde um acidente provocado por cavalos à solta na estrada até mortos em acidentes que no fundo morreram foi de ataque cardíaco, num caso, e de não saber nadar, no outro, há de tudo.

No Cartaxo aconteceu um atropelamento aparentemente por imprevidência de um "peão", neste caso um automobilista que abandonou, sem cuidado, o seu veículo acidentado.

No Poceirão, onde capotou um autocarro com crianças, procura-se as causas no excesso de velocidade mas, como se pode ver no texto, é a estrada onde ocorreu o acidente que não tem condições que permitam o trânsito de pesados.

Assim se empolam as estatísticas. Mais tarde os números, despidos das circunstâncias, facilitam análises e conclusões absurdas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

As Causas e os Porquês

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Em Portugal as entidades oficiais continuam a tratar os acidentes rodoviários numa base descritiva, quer quanto às circunstâncias quer quanto às consequências; se foi colisão ou atropelamento, se foi de noite ou se foi de dia, se as vítimas eram crianças ou idosos, etc.

A busca de soluções para o problema encontra-se por isso enredada em aspectos triviais e emocionais que em nada contribuem para o seu êxito.

A consequência desta falta de informação relevante é a culpabilização indiscriminada dos condutores e a obsessão em reduzir a velocidade de circulação por falta de outras ideias.

É necessário passar para um novo patamar, como já acontece noutros países, em que se trabalha ao nível das causas dos acidentes: a velocidade excessiva, a distracção, a condução sob o efeito do álcool e de drogas, o desrespeito da sinalização ou outras. Também devem ser tidas em consideração as situações em que as causas são indeterminadas ou, sendo conhecidas, não são evitáveis. Há, por exemplo, um número significativo de casos de adoecimento súbito ao volante em que as causas, na ausência de testemunhas, podem ser a posteriori muito difíceis de determinar.O mesmo se passa com os casos de adormecimento involuntário que podem acabar por ser contabilizados como um excesso de velocidade.

Mesmo quando já se determinam e estudam as causas dos acidentes convém ir ainda mais fundo e analisar a razão porque as causas actuaram em cada caso. Exemplifiquemos: dizer que a causa de um determinado acidente foi a distracção é pouco. Do ponto de vista da prevenção é muito diferente a distracção por estar a procurar um telemóvel, ou por estar a fumar, ou por estar olhar para a publicidade afixada na berma da estrada. As medidas preventivas a tomar em cada caso são bastante diferentes.

Também não basta dizer que um determinado acidente se deveu a velocidade excessiva; foi por pressa ? foi por gostar de rodar a alta velocidade ? foi por inépcia do condutor ? essa velocidade resultou excessiva porque o condutor foi posto perante uma situação inesperada ? a sinalização deveria ter evitado essa surpresa ? a surpresa resultou do comportamento anormal de um peão ? o condutor adormeceu ou faleceu ao volante ? e por aí fora.

Em cada caso é necessário determinar em que medida "contribuiram" para o acidente: a estrada, a meteorologia, os veículos, a intensidade do tráfego e o comportamento dos seres humanos envolvidos.

O objectivo é procurar determinar em que planos e de que forma podemos aumentar a probabiliade de os julgamentos humanos, que a condução pressupõe e exige, serem os mais adequados em cada circunstância. Esses julgamentos humanos não podem materialmente ser, mesmo que tal fosse desejável, alguma vez substituídos pelo medo imposto por qualquer sistema de controle.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Nem comento

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“Os funcionários da antiga Direcção-Geral de Viação (DGV) dizem que há milhares de multas em risco de prescrever, por estarem encaixotadas há meses em delegações de todo o País.
Fonte do Governo contrapôs que só prescrevem ao fim de dois anos.
DN, 20 Novembro 2007

(ilustração de Renato Alarcão)

A velocidade também salva




Ao contrário daquilo que nos querem fazer crer a velocidade também salva vidas, ou seja, nem sempre andar mais devagar resulta em maior segurança (como é claro durante uma ultrapassagem, por exemplo).
Há uma coisa que os fundamentalistas têm muita dificuldade em compreender: quando dois corpos se deslocam num plano a colisão entre eles pode ser evitada tanto pela travagem como pela aceleração de um deles.
Para ver se percebem melhor esta ideia aqui fica um video ilustrativo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Marialvas do Volante

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O Manuel João Ramos deu uma entrevista à NS' do Diário de Notícias do dia 17 de Novembro (clique nas imagens para ampliar se quer ler).
Por acaso adopta um tom moderado que só com alguma atenção revela, sob a capa, as suas posições fundamentalistas quanto à prevenção dos acidentes rodoviários.

A certa altura, num descuido, resolve qualificar o autor deste blogue como "Marialva do Volante", qualificativo que aplica igualmente a Miguel Sousa Tavares e a Alcino Cruz.
Se pertenço, como ele diz, a uma "espécie em vias de extinção" então acho que devia ser ajudado. Pelo contrário é ele, através da ACAM, que recebe subsídios do Ministério da Administração Interna.
Gostava de lembrar que eu, ao contrário de outras pessoas, não vivo dos acidentes de viação. Sempre tive uma profissão onde não precisava de andar a assustar ninguém para ganhar a minha vida.

As posições públicas que tomo, sobre a sinistralidade rodoviária, têm origem na minha consciência de cidadão.
Não me posso calar quando vejo as autoridades do meu país completamente subordinadas à chantagem psicológica do fundamentalismo.

A recente sucessão de acidentes rodoviários espectaculares está a levar a uma situação em que são as "associações de vítimas" que modelam o discurso político oficial e influenciam a legislação e as práticas repressivas sobre a generalidade dos cidadãos. Como se fosse tolerável subordinar às teses dos familiares das vítimas de crimes quer a investigação da PJ, quer os tribunais quer os legisladores do Código Penal.

A solução para os desgostos e os traumas dos familiares das vítimas não pode ser a culpabilização e o castigo indiscriminado. Isso é o que acontece quando se escolhe as soluções de prevenção rodoviária não por serem eficazes mas por serem penosas para a generalidade dos cidadãos.

Fatalidades acontecem todos os dias e em muitas áreas. Muitas delas são simplesmente inevitáveis. A esmagadora maioria resulta de casos fortuitos. Só um pequeníssimo número resulta de comportamentos assumidamente anti-sociais. É preciso aprender a viver com estes factos.

Acho que o caminho é tentar compreender cada vez melhor aquilo que propicia ou causa os acidentes para os poder prevenir.

Em vez da dramatização e das emoções culpabilizantes devemos apelar à inteligência e ganhar os cidadãos para medidas que racionalmente sejam passíveis de justificação.
Nada será conseguido pela culpabilização geral.

Aqueles que sofreram com a perda de entes queridos, por muito respeito que mereçam, não estarão provavelmente em condições de conduzir tão complexo trabalho.

domingo, 18 de novembro de 2007

Demagogia e manipulação


O Telejornal da RTP de hoje foi uma demonstração eloquente da aliança entre o fundamentalismo rodoviário e o sensacionalismo noticioso.

A RTP, depois de despachar num minuto as 10.000 vítimas de um ciclone no Bangladesh passou o tempo todo a tratar das 756 vítimas dos acidentes rodoviários em Portugal. As 10.000 vítimas do Bangladesh morreram em algumas horas, as 756 vítimas dos acidentes rodoviários em Portugal morreram ao longo de 10 meses. A RTP perdeu uma excelente oportunidade para aprender o significado da palavra catástrofe.

Muitos dos depoimentos apresentados eram sobre as pobres condições de vida das famílias das vítimas dos acidentes, agravadas pela morosidade dos tribunais e pela a matreirice das companhias de seguros. Nenhuma destas tristes realidades é da responsabilidade dos condutores mas da maneira como foram apresentadas até parecia que sim.

A demagogia e a manipulação continuam em alta.
É caso para dizer que para os fundamentalistas e para os noticiários da RTP os dramáticos acidentes que mancharam as últimas semanas foram uma autêntica "sorte grande"

Um caso de ciumes ?

TSF
18 Novembro 2007


Rui Pereira nega «aproveitamento político»

O ministro da Administração Interna rejeitou, este domingo, as acusações da Associação Estrada Viva de que o Governo está tirar proveito político do Dia da Memória das Vítimas da Estrada.
Em todo o país estão programadadas accções do Governo e das Forças de Segurança, numa campanha de sensibilização por causa da segurança nas estradas. O objectivo é que, durante o dia de hoje, não se registem acidentes graves.

Ouvido pela TSF, Manuel João Ramos, da organização Estrada Viva, acusou o Governo de estar a desvirtuar um dia que devia ser de recordação.«É óbvio que se trata de aproveitamento político. É óbvio que há um grande mal-estar no Governo pelo facto de nós termos andado a chamar à atenção para aquilo que não está a ser feito, sendo que alguém teve a ideia de fazer uma campanha de segurança rodoviária no Dia da Memória», considerou.

Reagindo às acusações de que as cerimónias de hoje são aproveitamento político de uma tragédia, o ministro recusou liminarmente essa leitura. «Não há nenhum aproveitamento político, não estamos num dia de festa, mas sim num dia de pesar, de responsabilidade», disse Rui Pereira, frisando que o exercício a que assistiu visou sensibilizar a população, e as crianças em particular, para «a importância do comportamento responsável em relação à estrada» e que a sua presença «simboliza a importância que o Governo dá a este combate».Quanto ao aumento do número de mortos nas estradas este ano, Rui Pereira recordou que só o recente acidente na A23 foi responsável por 16 vítimas mortais, mas disse preferir esperar pelo final do ano para fazer um balanço. «Em comparação com o período homólogo de 2006, repito que é prematuro fazer balanços. Há menos acidentes graves e menos acidentes.

Em relação ao número de mortos faremos contas no fim do ano», afirmou. O ministro realçou a evolução registada desde meados da década de 80, quando os mortos na estrada ultrapassavam os 2.500 por ano, descendo pela primeira vez para menos de 1.500 em 2001, quando era secretário de Estado da Administração Interna, e para menos de mil em 2006. «É preciso estabilizar esse resultado, garantir que não é um acaso, que conseguimos consolidar e que este é um esforço nacional que corresponde à afirmação de uma civilização solidária, em que as pessoas têm condutas responsáveis e cívicas», acrescentou.

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Se vamos falar em aproveitamento políico não sei quem possa acusar quem. Será que o ministro se esqueceu de algum subsídio ?

"Homenagens" para disfarçar o desleixo

Celebra-se-se hoje, domingo, o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, instituído pela ONU para lembrar que os acidentes de viação matam mais pessoas do a maior parte das guerras. Os Governos Civis vão promover acções de segurança rodoviária nos 18 distritos de Portugal, com o lema "Morte nas estradas, vamos parar com esse drama".
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Mais uma oportunidade para os habituais discursos de circunstância.
As vítimas não precisam de "homenagens", gostariam concerteza era de ver o problema dos acidentes encarado com seriedade.
Em vez de apelar às emoções as autoridades deviam ajudar a compreender e racionalizar as causas dos acidentes que podem ser evitados.
Ainda ontem o jornal Público inseria esta notícia:
Dezoito parques de manobras necessários para a aplicação do novo regime de exames de condução e que permitiriam melhorar a preparação dos condutores estão construídos há anos, mas ainda não abriram, alertou ontem a associação das escolas de condução. A propósito do Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, que se assinala amanhã, a Associação de Condução Automóvel lembrou que o novo regime de exames obriga a que as provas práticas sejam compostas por uma prova de comportamento em estrada e outra no parque de manobras.
Hoje, em vez de "homenagens", fariam bem melhor se inaugurassem estes parques de manobras.

sábado, 17 de novembro de 2007

Miguel Sousa Tavares sobre Ruas e o sal

Expresso
17 de Novembro 2007



3. Há uma circunvalação em Viseu, com vários quilómetros de comprimento, separador central e duas a três faixas de circulação em cada sentido, onde absurdamente o limite de velocidade está fixado em 50 km/hora. Como tal limite é quase impossível de cumprir, a polícia gosta de montar ali os seus radares e operações «stop», com profícua caçada às multas garantida. Na madrugada do último sábado, lá montaram uma operação, com direito a assistência do sr. governador civil do distrito. Mas, para azar de todos, o primeiro condutor parado por excesso de velocidade (89 km/hora) foi nada mais nada menos do que o presidente da Câmara e da Associação de Municípios Portugueses, Fernando Ruas. Depois de uma breve conversa entre este e o governador civil, o infractor seguiu livremente o seu caminho, sem ter sido identificado nem multado pela polícia. “Uma descoordenação”, justificou esta quando interpelada por um jornalista.
Dias depois, Fernando Ruas voltou a recusar um pedido já diversas vezes encaminhado para a Câmara de subir o limite de velocidade naquela estrada para os 80 km/ hora, declarando que ninguém se podia aproveitar do seu caso para reclamar tal alteração. Aliás, o autarca estranhou tanto interesse no seu caso e concluiu que se procura “arranjar argumentos para abater este cidadão”. Eis a sua moral: Façam como eu mando, não como eu desobedeço, porque nem todos são iguais perante a lei. Realmente, não se percebe tanto interesse no assunto.
4. Depois de tratar dos fumadores, o grupo parlamentar do PS propõe-se agora tratar da saúde a quem abusa do sal. Há um deputado que anda entusiasmado a preparar uma lei que vai regulamentar ao decigrama o teor máximo de sal permitido nos alimentos dos restaurantes. Não imagino que a fiscalização de tão minuciosa legislação se possa fazer sem um exército reforçado da ASAE, com aparelhos sofisticados e actuações espectaculares ao vivo (“O sr. cliente importa-se de esperar, antes de comer o seu peixe, que eu proceda à medição do teor de sal, para verificar se está legal?”).
Eu sempre disse: primeiro o tabaco, depois o sal, a seguir o álcool, depois as gorduras e os fritos e a seguir, quem sabe, talvez saia uma lei a regulamentar o perigo que representa para a nossa saúde o facto de ainda estarmos vivos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Uma nova petição

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Na sexta-feira 2 de Novembro ocorreu o trágico atropelamento junto ao Terreiro do Paço. Na segunda-feira seguinte, 5 de Novembro, mais dois terríveis acidentes em Tires e na A23 fizeram disparar, anormalmente, em poucos dias, o número de mortos para 45.

Faz hoje duas semanas e continuamos sem saber o que realmente aconteceu.

A extraordinária cobertura mediática explica-se pela violência dos acidentes com desmembramento dos corpos, pelo envolvimento de idosos e crianças e pela existência de relações de parentesco entre as vítimas. Mas não têm surgido descrições objectivas e explicações racionais para o que realmente aconteceu. "As causas do acidente estão a ser estudadas" e receamos que nunca venham a ser claramente enunciadas para o grande público.

Esse enorme vazio propicia as teorias fantasiosas e os exageros de quem pretende aterrorizar a população apesar de saber que esta "semana negra" não tem qualquer significado estatístico. Tem-se feito uma exploração despudorada dos sentimentos dos portugueses, usando as vítimas como bandeiras de propaganda, apesar de tal ser moralmente inadmissível.

Em vez de se estudar as causas dos acidentes e procurar os remédios em conformidade tem-se feito da culpabilização abstracta dos cidadãos comuns a chave que tudo justifica. Cada vez que morre um português na estrada há fornecedores de radares e de lombas e "especialistas" consultores que aumentam as suas previsões de vendas.

A verdade é que os acidentes de viação em Portugal estão em linha com o nosso nível de desenvolvimento económico e social. Têm mesmo vindo a reduzir o seu número de forma continuada e acentuada nos últimos anos. De acordo com estudos universitários recentes morrem três vezes mais pessoas por ingestão exagerada de sal do que em acidentes de viação.

O que importa é compreender para prevenir, desdramatizar em vez de culpabilizar.
Na prevenção dos acidentes rodoviários o mais importante é o "como" e o "porquê" e não o "quem". As causas e não as culpas. Não é possível prevenir o que se desconhece ou aquilo que não se compreende.

Os abaixo-assinados vêm por esta forma exigir que a Autoridade Nacional de Prevenção Rodoviária ponha cobro à presente indefinição e avance com relatórios para cada um dos acidentes, em que fiquem claramente estabelecidos os aspectos factuais, apurados e confirmados, os factores propiciadores ou causadores e o grau da sua influência.

Estes relatórios devem tornar-se obrigatórios sempre que há vítimas graves e ter publicação na internet. Todos os cidadãos poderão dessa forma esclarecer-se sobre os acidentes ocorridos e aprender a evitar os factores de risco.


Se concorda divulgue e assine aqui:

http://www.gopetition.com/online/15291.html


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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Não a uma Baixa semeada de lombas

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(clique na inagem para ampliar)

...foi ontem anunciada a Operação Natal - Cidade Limpa e Segura, promovida pela câmara em parceria com a Unilever. Orçada globalmente em 48 mil euros, na sua vertente relativa à mobilidade a campanha traduz-se na pintura de novas passadeiras, repintura de outras, colocação de bandas redutoras de velocidade e alteração do modelo de gestão de tráfego (temporização dos semáforos) na Baixa.

DN, 13.11.2007

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Como se pode verificar no mapa preparam-se para encher a Baixa de lombas (usam o eufemismo bandas redutoras de velocidade).
É caso para perguntar se o local tem um historial de acidentes.
De acordo com o relatório da DGV,na Baixa de Lisboa,durante todo o ano de 2006 houve apenas nove acidentes com feridos hospitalizados por mais de 24 horas e nenhum morto.
Como se justifica então uma decisão como esta ?

Depois da semana fatídica em que se concentraram por mero acaso vários acidentes graves vemos os políticos, quer nas autarquias quer no governo, pressionados pelos fundamentalistas e pelo sensacionalismo da imprensa, a tomar medidas de qualquer maneira para evitarem ser responsabilizados pelos acidentes.

Neste caso, sem qualquer justificação baseada na experiência, vai-se:

- gastar recursos que teriam melhor aplicação preventiva
- descaracterizar e desertificar ainda mais a Baixa de Lisboa
- atentar gravemente contra a mobilidade
- degradar mecanicamente milhares de veículos
- afectar a saúde de milhares de ocupantes dos veículos (grávidas, doentes da coluna, etc)



Em Portugal o pão é mais perigoso do que as estradas


"Se cada português ingerisse menos um grama de sal por dia poderiam evitar-se 2640 mortes por ano. E se a redução chegar aos quatro gramas diárias, poderiam poupar-se sete mil vidas num ano. O cálculo consta de um estudo coordenado pelo professor Jorge Polónia, da Universidade Fernando Pessoa, que coloca Portugal no topo da tabela dos países europeus em que é maior a relação entre a mortalidade por acidente vascular cerebral e a ingestão média diária de sal.
Portugal é, aliás, o único país da União Europeia em que se morre mais por acidente vascular cerebral (AVC) do que por doença coronária, com um registo superior a 170 mortes por cada 100 mil habitantes, ou seja, cerca de 17 mil óbitos por ano.Uma situação que não é fruto do acaso, mas que está relacionada com os níveis de consumo de sal em Portugal, que estão acima de doze países europeus analisados. Os portugueses ingerem, em média, 12 gramas por dia - o dobro da dose recomendada pela Organização Mundial de Saúde -, contra apenas 7,9 na Dinamarca ou dez gramas em Itália e Espanha, países com dietas aproximadas à portuguesa. Um dos principais alimentos responsáveis por essa diferença é o pão, justamente um dos mais incontornáveis na alimentação diária da população nacional."
Diário de Notícias, 14 de Novembro 2007
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Se os 850 mortos por ano nas estradas portuguesas justificam a campanha fundamentalista em curso e os discursos catastrofistas dos políticos o que dizer do sal no pão, que mata milhares ?
Sempre que falarem em "tragédia rodoviária" e "guerra civil nas estradas" lembrem-se das carcaças...

A hipocrisia dos discursos catastróficos

Diário de Notícias
13.11.2007





A actuação das autoridades em relação aos comportamentos irresponsáveis dos peões é elucidativa da hipocrisia dos discursos sobre a "tragédia nas estradas". A tolerância com que os peões são tratados acaba por proporcionar a sua transformação em vítimas.

Os "defensores dos peões" costuma usar um argumento falacioso: que os peões são a parte fraca e os automobilistas andam protegidos por 1.500 kilos de aço (por sinal as estatísticas mostram que os acidentes fazem mais vítimas entre os condutores - 551 em 2006 contra 137 peões).

Se é verdade que os peões estão desprotegidos isso devia constituir mais uma motivação para se defenderem procedendo com cuidado e usando as ruas com prudência.

O Código da Estrada devia ser aplicado a todos os cidadãos com igual rigor.

Se há automobilistas que têm comportamentos de risco e causam vítimas também há peões que, pela sua irresponsabilidade, não só sacrificam a própria vida como tornam a de outros um verdadeiro inferno.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ruas escapa a identificação policial em Viseu

Público
13.11.2007



Ruas confirma que foi mandado parar pela PSP, mas garante que ninguém lhe disse que tinha cometido uma infracção.
O presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, foi apanhado a conduzir em excesso de velocidade durante uma operação stop da PSP, que era acompanhada pelo governador civil de Viseu. Na Avenida da Europa, dentro da cidade, onde é proibido circular a mais de 50 km/h, Ruas foi o primeiro condutor a ser fiscalizado pelos agentes que controlavam a velocidade. O radar marcou 89 km/h.
De acordo com as ordens dos agentes, Ruas encostou a viatura, um jeep da câmara. Mas, no momento imediatamente a seguir, o governador civil de Viseu, Acácio Pinto, aproximou-se da viatura e conversou com o autarca. Pouco tempo depois, Ruas seguia viagem, sem ser identificado pelos agentes, ao contrário do que estava a acontecer com outros condutores fiscalizados noutro ponto da cidade, nomeadamente na circunvalação, junto à Universidade Católica.
Fernando Ruas, em declarações ao PÚBLICO, confirma que foi mandado parar pelos agentes, mas nega ter sido informado sobre qualquer infracção que possa ter cometido. "Fiz tudo o que os agentes me mandaram", sublinhou, adiantando que o governador civil de Viseu se limitou a informá-lo da operação que estava a decorrer.
A mesma versão é dada por Acácio Pinto, que garante não se ter apercebido de que o autarca foi mandado parar por conduzir com velocidade acima dos limites legais.
O comandante da PSP de Viseu, Almeida Campos, também se encontrava no local, mas na sexta-feira (noite em que decorreu a operação stop) não confirmou se Ruas tinha ou não cometido qualquer infracção, remetendo explicações para mais tarde.
Ao PÚBLICO, Almeida Campos garantiu ontem que Fernando Ruas foi fiscalizado, tendo o radar detectado uma velocidade 89 km/h. Posteriormente a esta confirmação, o autarca voltou a afirmar que desconhecia ter cometido qualquer infracção, não estranhando por isso que os agentes não o tenham identificado.
Ruas disse não perceber a razão por que estava a ser questionado, argumentando que "os jornalistas não são polícias". Se receber a notificação, assegura, irá agir como qualquer cidadão. "Irei pagar, ou não", adiantou, dizendo que ninguém tem a ver com o assunto.
Almeida Campos, da PSP de Viseu, justifica com uma "descoordenação entre agentes" o facto de Fernando Ruas não ter sido identificado pela PSP, assim que os polícias detectaram a infracção. Segunda relata, o agente que ordenou ao autarca para parar não informou o outro agente de que deveria ter pedido os documentos a Ruas. Como o governador civil se aproximou, um outro agente, com a função de manter a segurança, autorizou "indevidamente" que o autarca seguisse viagem, mal o governador civil de Viseu se despediu do autarca, adianta o comandante da PSP de Viseu. Quando o agente quis identificar o condutor "já era tarde", explica Almeida Campos.
Pelo facto de ter existido um "erro", Almeida Campos nega qualquer "tratamento especial" por se tratar do presidente da Câmara de Viseu. Apesar de Ruas não ter sido identificado no momento da infracção, o comandante garante que Ruas irá receber uma notificação, por forma a ser identificado o condutor responsável pela infracção. "Não restam dúvidas de que era o presidente da Câmara de Viseu", afirma Almeida Campos, tendo em conta que se encontravam no local vários agentes da PSP e jornalistas. Ruas deverá pagar entre 120 (mínimo) a 600 euros de multa. A infracção, considerada grave, prevê também a inibição de condução durante um mês.

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Não tarda nada está a fazer um discurso sobre "a tragédia dos acidentes" e depois compra uma data de radares lá para a terrinha. O problema é sempre do mexilhão...

Auto-mobilizados mas não auto-financiados


O DN de hoje refere o Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, a propósito de um subsídio de 108.900 euros dado pelo MAI à ACAM (Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados) ao abrigo de um "concurso de segurança rodoviária".
Segundo o Secretário de Estado a ACAM não deu conhecimento ao ministério da aplicação da mencionada verba. Os cidadãos andam portanto, sem saber, com os seus impostos, a finaciar as propostas absurdas da ACAM com as quais não concordam.
Começa assim a perceber-se que estes cidadãos só são "auto-mobilizados" para os subsídios em vez de serem auto-financiados como lhes competia. Isso explica porque apostam no exagero permanente e usam despudoradamente as vítimas dos acidentes para empolar a importância da sinistralidade rodoviária.

Pelos vistos a coisa rende...


segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Cidadãos Por Lisboa Não Passam





Galvanizados com as mais recentes propostas do movimento "Cidadãos Por Lisboa Não Passam", de criação das geniais "Zonas 30", onde se exige a

..."concretização urgente" de um plano iniciado no mandato anterior que limita a velocidade máxima a 30 quilómetros por hora junto de escolas, bairros residenciais e zonas com "elevada frequência de peões".

industriais da zona de Caneças meteram mãos à obra e conceberam veículos perfeitamente adaptados às novas regras propostas pelo CPLNP.

Os protótipos que hoje revelamos em primeira mão, todos de um cavalo, foram baptizados, sabe-se lá porquê, com as seguintes designações: ACAM Coupé, ACAM Sport, ACAM Turbo.




domingo, 11 de novembro de 2007

"Pontos Negros" do atropelamento



Este "mapa dos atropelamentos" em Lisboa durante o ano de 2006 foi publicado no Público de 10 de Novembro.


Penso que terá interesse ver que consequências tiveram:

Infante D. Henrique...........16 atrop. (0 mortos, 3 feridos graves)
24 de Julho........................15 atrop. (1 morto , 7 feridos graves)
Estrada de Benfica............15 atrop. (0 mortos, 1 ferido grave)
Almirante Reis...................14 atrop. (0 mortos, 8 feridos graves)
Linhas de Torres...............13 atrop. (0 mortos, 4 feridos graves)
Campo Grande...................9 atrop. (0 mortos, 1 ferido grave)
Fontes Pereira Melo...........7 atrop. (0 mortos, 2 feridos graves)
Prof. Egas Moniz................6 atrop. (0 mortos, 0 feridos graves)
Igreja...................................6 atrop. (0 mortos, 0 feridos graves)
Berlim..................................6 atrop. (0 mortos, 3 feridos graves)
Morais Soares.....................6 atrop. (0 mortos, 1 feridos graves)

Como se pode ver a objectividade não é muito respeitada em abordagens deste tipo. Projecta-se uma imagem empolada relativamente à gravidade real das situações. Aos 113 atropelamentos referidos corresponderam "apenas" 1 morto e 30 feridos graves. (Para quem não saiba um ferido grave é aquele que esteve mais do que 24 horas hospitalizado).
Bom, bom, era saber por que razão estes atropelamentos aconteceram mas a verdade é que ninguém sabe e até parece que ninguém quer saber. Nem todos terão sido causados pelos automobilistas e, desses, nem todos tiveram certamente origem na velocidade excessiva.
Qualquer pessoa pode perceber por estes números que os radares têm fraca justificação e, ainda mais estranho, não foram colocados nos sítios onde se verificam mais acidentes.

Miguel Sousa Tavares sobre os acidentes

Expresso

10 de Novembro 2007

Quinze pessoas morreram porque um ligeiro abalroou um autocarro numa zona da A-23 sem qualquer perigo e em condições de circulação ideais. Fez-se um teste de álcool e de droga à condutora, que acusou negativo; procuraram-se indícios de excesso de velocidade, mas sem resultado. Mesmo assim, escreveram-se os inflamados artigos do costume sobre a mortandade rodoviária e o Governo tratou de anunciar maior repressão sobre o excesso de velocidade e o consumo de álcool ao volante. À preguiça comodamente instalada não ocorreu considerar a hipótese de que o acidente se possa ter ficado a dever à mais comum causa de morte nas estradas portuguesas: a inépcia ao volante. Sucede que, apesar dessa figura de estilo chamada exames de condução, nem toda a gente está habilitada a conduzir um carro. Recusando aceitar esta evidência, procura-se sempre uma causa externa que possa justificar os acidentes e, quando não há, remete-se invariavelmente para o excesso de velocidade. E como a má condução não constitui infracção, quando nem o excesso de velocidade se consegue provar, a culpa morre solteira e o condutor segue em frente. As estradas de Portugal estão cheias de condutores que causaram acidentes e mortes por simples inépcia e que continuam tranquilamente a conduzir.
Há anos que eu defendo isto: que o cadastro rodoviário tenha por base os acidentes causados e não as infracções cometidas. Para que não se tire a carta a quem estacionou na passadeira de peões ou foi flagrado numa auto-estrada deserta a 150 à hora, e se mantenha ao volante quem deixou para trás mortos e feridos, sem contudo ter cometido qualquer infracção. Mas para isso era necessário que, em vez da caça à multa, que dá dinheiro à polícia e ao Ministério das Finanças, o objectivo primeiro passasse a ser o de retirar das estradas os condutores perigosos.

sábado, 10 de novembro de 2007

Lisboa tem mais de 30 acidentes por dia

Diário de Notícias
10 de Novembro 2007





Até Novembro, Lisboa contabilizou 9482 acidentes, o que representa uma média de 31,6 por dia. Destes, 7198 registaram danos, a maioria foi por colisão. As vítimas mortais vão em 16, os feridos graves em 149 e os ligeiros em 2647. A polícia garante que tais números não são sinónimo de uma sinistralidade mais violenta. O subcomissário João Pinheiro, comandante operacional da Divisão de Trânsito da PSP, argumentou ao DN: "A sinistralidade em Lisboa não está mais violenta. Se estivesse, os números demonstravam-no, pois isso implicaria mais vítimas." O mesmo defendeu o professor do Instituto Superior Técnico (IST) João Dias: "Não acredito que esteja mais violenta, embora o atropelamento do Terreiro do Paço tenha sido brutal e um exemplo do extremo da velocidade que se atinge na cidade. Aliás, de todos os casos que já analisei, não recordo uma situação assim."Dados policiais revelam que, a manter-se esta tendência, Lisboa "não atingirá nem o número de acidentes nem a mortalidade de 2006", disse o subcomissário. O mesmo admitiu que o primeiro semestre de 2007 registou "uma sinistralidade reduzida. Agosto não teve uma vítima, mas os últimos meses já foram mais violentos". Em 2006, houve 12 425 sinistros, 9634 com danos, que resultaram em 23 mortos, 292 feridos graves e 3192 ligeiros. À SIAV foram participados 1152. A experiência recolhida pelas equipas revelou que 98% foram provocados por erro humano. A maioria por "distracção e condução perigosa, como excesso de velocidade", explicou o comandante da DT. Por isso, a investigação é muito centrada no comportamento. Mas Lisboa não foge à regra do resto do mundo. Em todo o lado, estudos científicos definem ser este o principal problema das estradas. Só que há algumas nuances. "Na Europa, a sinistralidade envolve sobretudo crianças e jovens. Em Lisboa, os mais afectados são os idosos, pela perda de capacidades sensoriais", sublinhou o professor do IST. A sinistralidade da capital é marcada pelos atropelamentos e acidentes com motociclos, mas, nos últimos anos, há a registar mais jovens como e intervenientes em acidentes. Antes, a faixa etária crítica ia dos 18 aos 24 anos. A tendência é para se estender até aos 30-35. Os jovens pecam pelo desrespeito das regras, inexperiência na condução, maior consumo de álcool e drogas e excessiva paixão pela velocidade.

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Os números, na sua objectividade, mostram como é absurdo o alarido e o empolamento que neste momento se faz à volta dos acidentes (mencionando, por exemplo, o número total de "acidentes" que inclui milhares de toques sem qualquer consequência).
Não há em Lisboa qualquer catástrofe nem "guerra civil" mas sim um problema para o qual queremos encontrar a melhor solução possível.
Isso tem vindo a ser feito e é visível na drástica redução do número de vítimas de ano para ano (mortos em 2005= 45, mortos em 2006= 22).

PSP treina brigadas para investigar crime na estrada

Diário e Notícias
10 de Novembro 2007


Sexta-feira. 2 de Novembro. 05.38. A chamada caiu via rádio na Secção de Investigação de Acidentes de Viação (SIAV) da PSP de Lisboa, em Benfica. Um despiste com provável vítima mortal ou ferido grave, no Terreiro do Paço. Duas equipas, de cinco elementos, partiram para o local numa viatura ligeira e numa carrinha. Dez minutos depois paravam junto a um veículo danificado. Lá dentro, um corpo já sem vida. Mas à medida que avançaram no terreno depararam com membros inferiores mutilados. Mais à frente, um outro cadáver. Por fim, alguém que ainda respirava, mas com lesões graves. Nada fazia supor um cenário daqueles. "A chamada falava em despiste. Nunca nos passou pela cabeça que fosse um atropelamento", contou ao DN um dos agentes.

A tragédia estava consumada. Havia que reagir e sossegar os que ali chegavam e eram surpreendidos pela imagem. De imediato, foram pedidos reforços para isolar o local. O INEM tratava de salvar quem ainda podia ter uma chance, enquanto a polícia começava a recolha de vestígios que poderão conduzir às causas de tão violento embate. Só depois foi possível a identificação dos corpos. Ninguém sabia quem era quem. Nem tão-pouco se algum daqueles pertencia a quem conduzia a viatura.

A tarefa não era fácil, mas é para este tipo de cenário que os homens da SIAV são preparados. E muitos confessam: "Quando chegamos ao local temos de nos abstrair de tudo. O importante é concentrarmo-nos no que há à volta e accionar todos os mecanismos necessários para prestar socorro a quem precisa e dar início à investigação, de forma a que os vestígios não sejam apagados."

Desde Maio de 2006, altura em que foi criada a secção, que é assim. Ali trabalham 41 elementos, em dois turnos de 12 horas, e divididos por equipas, de dois ou três agentes. Todos receberam formação específica para lidar com acidentes graves, nomeadamente os que envolvam mortos, feridos graves, atropelamentos, motociclos, transportes escolares e de matérias perigosas e ainda com viaturas do Estado. O Porto tem também uma secção de onze elementos.

Perspicácia, rapidez e rigor são três factores essenciais para quem está no local. "Uma recolha de vestígios bem sucedida é meio caminho andado para a investigação chegar à verdade", argumentaram ao DN. Por isso, "é importante que o agente que vai ao acidente seja o instrutor do processo. A visualização do cenário é essencial para a análise e avaliação dos elementos recolhidos", explicou o subcomissário João Pinheiro, comandante operacional da Divisão de Trânsito (DT) da PSP de Lisboa.

A experiência é uma mais-valia, mas cada acidente tem uma história. E muitas vezes o segredo da investigação está no facto de "do nada se conseguir fazer tudo", reforçou um dos elementos. Mas se hoje os homens da SIAV estão preparados para tal é porque o curso, que frequentaram antes de ingressar na secção, de Janeiro a Março, lhes deu técnicas de abordagem criminal e jurídica.

Aliás, era esta formação que fazia falta à polícia e que levou a instituição a investir na investigação do crime rodoviário. Até agora, só Lisboa e Porto têm secções específicas para a área. Contudo, o objectivo é ter em todos os comandos do País agentes formados na investigação de acidentes. De acordo com o comandante operacional da DT, duas razões sustentaram a criação da SIAV. Por um lado, as directrizes da UE que apontavam para a redução da sinistralidade em 50% até 2010. Por outro lado, o apoio à justiça, que se traduz pela necessidade de "dotar o Ministério Público de todos os elementos de prova que conduzam ao apuramento de responsabilidades".

Em 2006, foram participados à SIAV 1152 acidentes, de um total de mais de 12 mil. Destes, resultaram 40 inquéritos que seguiram para o Ministério Público, 35 por suspeita de crime de homicídio e onze por ofensa à integridade física. Este ano, a SIAV já recebeu quase 1300 participações, que originaram 38 processos, 12 por suspeita de homicídio e 16 por ofensa à integridade física. Conforme explicou ao DN o subcomissário Pinheiro, só uma percentagem muito reduzida (3,5%) dos acidentes com feridos graves é que chega a tribunal, "a maioria é resolvida através das companhias de seguro". O que não acontece com os que envolvem vítimas mortais que são considerados crime público. A procuradora responsável dos juízos criminais de Lisboa, Eliete Dias, onde estes casos são julgados, não tem dúvidas ao afirmar que "este investimento da polícia tem sido um apoio muito grande para a justiça. Trabalham de forma rigorosa e cumprindo os prazos".

A polícia portuguesa começa agora a dar os primeiros passos na investigação do crime rodoviário, embora esta designação ainda não faça parte do nosso Código Penal. Tal acontece quando em outros países, como a Espanha, a experiência adquirida tem 50 anos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Mortos de primeira e de segunda ?



Está a acontecer uma coisa extraordinária. Todos os dias há acidentes rodoviários relatados, muitas vezes em directo, nas televisões portuguesas.
Isso significa que 0,79 % dos óbitos que acontecem em Portugal obtêm 90 % da cobertura mediática. A quem é que isto serve ? Quem é que está por detrás desta campanha ?

Se é verdade que morreram em Portugal 850 pessoas por acidentes de viação em 2006 é também verdade que morreram por exemplo:

- 910 por suicídio
- 3.000 por erro médico
- 1.500 por cancro da próstata
- 3.500 por cancro do colon
- 36.500 por doenças do aparelho circulatório
- 2.200 por outras causas externas


Muitas destas mortes podiam ter sido prevenidas e devem ser tão lamentadas quanto aquelas que resultam de acidentes na estrada.

Será que os 106.000 falecidos que não morreram por acidente de viação são portugueses de segunda ?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Governo anuncia nova campanha para baixar sinistralidade nas estradas

Público
6 de Novembro 2007






O Governo anunciou hoje uma campanha para diminuir a sinistralidade rodoviária, após uma reunião entre vários departamentos oficiais, na sequência do acidente que ontem envolveu um autocarro e um ligeiro na A23, em Vila Velha de Ródão, e que provocou a morte a 15 pessoas.
Em declarações aos jornalistas, o secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, revelou que a campanha passará por um reforço da vigilância na estrada, prevendo-se um reforço do controlo da velocidade e dos índices de alcoolemia.Na reunião foi acordada a concessão de uma verba extraordinária de dois milhões de euros para investir em alcoolímetros, radares de controlo de velocidade e sistemas informáticos a utilizar pelas forças de segurança. De acordo com o governante, entre o conjunto de dez decisões que saíram da reunião encontra-se também o controlo de velocidade nas auto-estradas, dado que, como reconheceu depois, a velocidade média da circulação rodoviária poderá estar a aumentar. Além de organismos que integram o Ministério da Administração Interna, no encontro estiveram presentes representantes dos Ministérios da Saúde e das Obras Públicas, incluindo o secretário de Estado desta tutela, Paulo Campos. Ficou ainda acordado que entre 25 de Novembro e 7 de Janeiro, período que abrange as festas natalícias e passagem do ano, a acção das forças de segurança vai ser reforçada, para aumentar ainda mais a fiscalização nesse período. A "fiscalização e a "coacção" a que a GNR e a PSP vão sujeitar os condutores têm como objectivo, justificou Ascenso Simões, a redução do número de mortos na estrada, que está a registar um aumento relativamente à média dos últimos anos. Desde o início do ano e até domingo morreram nas estradas do Continente 711 pessoas (número que não inclui as 15 vítimas do acidente de Castelo Branco), mais 21 do que no mesmo período de 2006, de acordo com dados reunidos pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).Já no dia 18, Dia da Memória, o secretário de Estado disse que vários elementos do Governo vão envolver-se em iniciativas para sensibilizar a opinião pública para a morte diária de pessoas nas estradas. Para controlar a velocidade nas auto-estradas, Ascenso Simões disse que a GNR vai "apostar nos radares".

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Este tipo de decisões tomadas a quente sobre ocorrências dramáticas revela, antes de mais, falta de seriedade. Revela também falta de coragem para aguentar a pressão da comunicação social enquanto se estuda a causa dos acidentes para DEPOIS procurar soluções e tomar decisões. Nunca se trata de estudar as causas dos acidentes mas já se decidiu comprar centenas de radares. Os fornecedores devem estar felicíssimos. Cada morto na estrada é, para eles, dinheiro em caixa.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

QUANDO A DEMAGOGIA TIRA CARTA DE CONDUÇÃO

Diário de Notícias
6 de Novembro 2007



O trágico atropelamento do Terreiro do Paço teve efeitos indirectos na minha caixa de correio. Como eu sou um perigoso selvagem que em tempos defendi que os limites impostos pelos novos radares de Lisboa eram um absurdo, leitores dedicados que guardaram esses recortes à espera de uma oportunidade sangrenta estão agora a fazer a festa. Diante de dois corpos despedaçados na Av. Infante D. Henrique, só um bárbaro se atreve a questionar limites de velocidade cerrados nas grandes cidades, certo? Talvez seja melhor dizer que sim com a cabeça. Seja um acelera maluco ou uma tartaruga obcecada pelas mortes nas estrada, um fundamentalista é sempre um fundamentalista.

O leitor Carlos Martins, numa mensagem tão demagógica que faz os discursos de Hugo Chávez parecerem um exemplo de moderação, lança-me mesmo um desafio: "Aguardamos agora nova peça do Sr. Tavares, explicando aos dez órfãos [uma das vítimas do atropelamento tinha dez filhos] que não se deve restringir as velocidades nas cidades." Da minha parte, o Sr. Tavares manda dizer que a utilização de órfãos em campanhas publicitárias é desaconselhada pelas leis da república, e que há limites para a desonestidade intelectual. Perdoem-me: o que é que um veículo descontrolado e em excesso de velocidade, que provavelmente passou um sinal vermelho e colheu três pessoas numa passadeira, tem a ver com os limites de circulação no prolongamento da Av. dos EUA? A mim, parece-me que nada. Mas as luminárias do travão acham que tem tudo.

Numa resposta ao seu mail, eu tentei explicar ao leitor Carlos Martins que estabelecer uma ligação entre uma coisa e outra seria o mesmo que atribuir a culpa da guerra do Iraque aos chineses, por terem sido eles a inventar a pólvora. Ou acabar com a caça porque dois inocentes foram mortos a tiro de zagalote. Não bate certo. Pior: é um reflexo daquele tique lusitano que consiste em despejar leis por cima de todos os problemas, e achar que tudo se resolve controlando, controlando, controlando - mas através do Diário da República. Esta gente olha para a tragédia do Terreiro do Paço e não a vê como um acontecimento pontual, inesperado e - lá está - incontrolável. Não: aquilo é sintoma de alguma coisa, num daqueles raciocínios à Paulo Coelho onde um espirro pode encerrar uma verdade escondida sobre o universo. Meus caros leitores encarniçados: as barbaridades acontecem, aqui como em qualquer lado, mas num país civilizado não é a partir de um acto selvagem que se mudam as leis - e a própria falta de civismo não se combate a golpes de chicote. Até por respeito aos dez órfãos, convém nesta questão manter um mínimo de pudor.
João Miguel Tavares

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Também sei o que é "fanatismo rodoviário". Funciona como todos os outros fanatismos: exagera um problema social, convence-se de uma solução milagrosa e depois sente-se no direito de a impor aos outros.
Os acidentes dos últimos dias e a inevitável projecção mediática servem às mil maravilhas os intentos desta gente que os usa para chantagear também os detentores de cargos públicos.
O governo e as autarquias, com medo de serem acusados de negligência, preparam-se para acolher as propostas mais idiotas e encher os bolsos dos fornecedores de radares e não só.
Quanto ao estudo das causas dos acidentes fica para as calendas.

Aprender com os acidentes



Não devemos desperdiçar a oportunidade de aprender com os graves acidentes ocorridos nos últimos dias.
É pena que as autoridades responsáveis pela prevenção ainda não tenham esclarecido o público sobre os factores que propiciaram, ou causaram, os acidentes.
Por isso temos que usar o material que os jornais, de forma avulsa, vão dedicando às circunstâncias e causas dos sinistros.






Atropelamento da Infante D. Henrique

Não existem dados sobre a velocidade a que circulava o automóvel nem sobre a razão pela qual se descontrolou. Uma coisa é, no entanto, certa: o facto de haver dois radares na Infante D. Henrique não impediu que o acidente se verificasse.

Pode até ter acontecido que o automóvel sinistrado tenha passado no radar abaixo dos 50 e que depois, já no Terreiro do Paço, tenha provocado o acidente. Dada a extensão da Infante D. Henrique, 10 km, seriam necessárias muitas dezenas de radares só nessa via para garantir que a velocidade estabelecida não seria desrespeitada. Como qualquer pessoa compreende não pode ser essa a solução.

Atropelamento em Tires

Os jornais referem que a avó e as duas crianças, durante ou depois de ter atravessado a rua na passadeira, terão decidido subitamente voltar para trás.

Tudo leva a crer que terão surpreendido o condutor do automóvel que os atropelou com um comportamento completamente inesperado.

A ser assim somos levados a pensar com mais atenção a problemática das distracções que, como já foi demonstrado em Espanha, estão na causa de muitos acidentes

Colisão e despiste na A23

As descrições e testemunhos apontam para um erro da condutora do veículo ligeiro que, depois da ultrapassagem do autocarro, terá tentado regressar cedo demais à faixa da direita levando ao descontrole do pesado.

Se assim foi trata-se de um erro técnico da condutora, ou por inépcia ou por distracção.

Este parece ser um caso em que, em vez de excesso de velocidade, se deverá falar de velocidade insuficiente. Nem sempre andar mais devagar significa mais segurança.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Carta Aberta ao Senhor Presidente da ANSR






Carta Aberta ao Senhor Presidente
da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária


Exmo Sr.

A extraordinária concentração de acidentes graves, e "espectaculares", nos últimos dias tem motivado uma enorme cobertura mediática e desencadeado todo o tipo de especulações e aproveitamentos. São factores que propiciam estes fenómenos:

- a violência dos acidentes que inclui, em certos casos, o desmembramento dos corpos das vítimas
- o envolvimento de idosos e crianças e a existência de relações de parentesco entre as vítimas
- o número de vítimas e as circunstâncias em que os acidentes se verificaram

Todos estes aspectos têm sido glosados nos meios de comunicação, muitas vezes de forma sensacionalista, e são aproveitados por alguns para gerar um ambiente social marcado pelo alarmismo embora a coincidência dos acidentes no tempo não tenha qualquer significado estatístico.
Publicita-se o número de mortos e feridos, refere-se a hora matutina a que as vítimas se levantaram para ir trabalhar, divulga-se o percurso da excursão e a sua passagem por Fátima, menciona-se aspectos da vida privada dos atingidos. Tudo isto desencadeia no público emoções compreensíveis mas não as reflexões necessárias.
Não têm surgido descrições objectivas e explicações racionais para o que realmente aconteceu. "As causas do acidente estão a ser estudadas" e, como vem sendo hábito, acabarão por nunca ser claramente enunciadas para o grande público. Essa lacuna abre campo a todas as teorias fantasiosas, reforça o clima de insegurança e não ajuda desenhar as medidas que poderiam prevenir os futuros acidentes.

Na prevenção dos acidentes rodoviários o mais importante é o "como" e o "porquê" e não o "quem". As causas e não as culpas. Não é possível prevenir o que se desconhece ou aquilo que não se compreende.
Torna-se assim imperioso que alguma instituição oficial competente, por exemplo aquela a que preside V. Exa., ponha cobro a esta indefinição e avance com relatórios, para cada um dos acidentes, em que fiquem claramente estabelecidos:
- os aspectos factuais, apurados e confirmados, das circunstâncias do acidente
- os factores propiciadores ou causadores do acidente e o grau da sua influência
- as medidas em curso, ou planeadas, para responder aos factores que intervieram no acidente

Estes relatórios deveriam tornar-se obrigatórios sempre que há vítimas graves e ser publicados e acessíveis a todos os cidadãos através da internet.
Não só ajudariam a esclarecer os acidentes ocorridos mas também educavam os cidadãos para se precaverem relativamente aos factores de risco.

Morrer da cura e não da doença

Expresso

6 de Novembro 2004





Um estudo inédito estima que em Portugal morram mais pessoas por falhas médicas do que por sida ou em acidentes nas estradas.

O cirurgião José Fragata e o engenheiro Luís Martins escreveram o livro «Erro em Medicina», que será lançado no fim do mês (Nov. 2004) pela Almedina.
ESTIMA-SE que três mil pessoas, de entre cerca de um milhão que são internadas por ano, morram nos hospitais portugueses em consequência de erros cometidos pelas equipas de profissionais de Saúde.
Estes dados - que resultam de uma extrapolação feita a partir de estatísticas internacionais - revelam um índice de mortalidade resultante do erro médico superior ao dos acidentes de viação ou da sida. Num estudo inédito em Portugal sobre Erro em Medicina, um cirurgião cardio-torácico e um engenheiro de sistemas abrem, pela primeira vez, a porta ao conhecimento de uma realidade pouco estudada em Portugal, que se mantém como um dos maiores tabus da prática médica, mas que tem lugar certo nas páginas dos jornais.
Esta semana, por exemplo, ficou a saber-se que um hospital público do Norte deu alta a um doente com quatro costelas partidas e um pulmão perfurado. Na semana passada, uma enfermeira denunciou publicamente a morte da sua mãe, depois desta esperar 12 horas nas urgências de outro hospital público, para ser observada por um cardiologista. E há cerca de um mês, os irmãos de um doente guineense - falecido inexplicavelmente durante uma cirurgia - agrediram o director clínico do hospital por não saberem do corpo do seu familiar. Todos estes casos poderiam, afinal, servir de exemplo ao trabalho desenvolvido pelo médico José Fragata e pelo engenheiro Luís Martins, no livro que em breve será lançado pela editora Almedina.

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Convém nunca esquecer que os acidentes de viação são a causa de morte em menos de 1% dos óbitos anuais em Portugal. Isto para não cair no absurdo quando se trata da prevenção da sinistralidade.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

As verdadeiras causas dos acidentes (16)

Portugal Diário
3 de Novembro 2007






Um condutor de 82 anos faleceu hoje em Lisboa depois de ter sido acometido por doença súbita enquanto conduzia, embatendo em contramão em três viaturas, provocando danos materiais, indicou hoje à agência Lusa a PSP da capital.
O acidente ocorreu cerca das 16:30 na rua Conde de Almoster quando um homem, de 82 anos, se despistou, embatendo em três outras viaturas que seguiam em sentido contrário.
Segundo a mesma fonte, o condutor foi acometido por doença súbita no momento do despiste, que causou ferimentos ligeiros na mulher que o acompanhava, tendo sido encaminhada para um hospital, e danos materiais dos três outros veículos.
Ao local do acidente acorreu ainda uma equipa do INEM, mas o condutor já se encontrava sem vida.

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Este caso ensina várias coisas. Primeiro, que não faz sentido falar de "zero acidentes" como objectivo na medida em que há e haverá sempre situações deste tipo. Segundo, não sabemos realmente quantos casos destes acontecem todos os anos e acabam por ser tratados como casos de "excesso de velocidade", em especial quando não há sobreviventes para contar o que aconteceu. Não esquecer que todos os dias há milhões de pessoas ao volante e que por isso há uma elevada probabilidade de alguns falecerem subitamente.

Lá como cá





A Dinamarca está a tentar resolver o problema da desobediência aos limites legais de velocidade de uma forma, no mínimo, original. Fica para estudo a sua aplicabilidade entre nós.
Lá como cá, de acordo com esta notícia, os que acham os limites desadequados são muitos...(clique na imagem para ver o filme).

domingo, 4 de novembro de 2007

Os números não justificam o alarmismo

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Cada vez que acontece uma fatalidade, em especial se pelas suas características ela permite espectáculo mediático, reacende-se a campanha de empolamento do problema da sinistralidade com o intuito de viabilizar as teses fundamentalistas ou mesmo vender consultorias, radares, aparelhos de GPS e não só.
É o que está a acontecer a propósito do atropelamento recente junto ao Terreiro do Paço que, dadas as circunstâncias, é um desastre pouco típico e que não justifica as extrapolações que se vêm publicando nos últimos dias.
O número dos atropelamentos graves em Portugal, os verdadeiros, é o que figura no quadro. Como se pode constatar tem havido uma redução enorme no número de vítimas que as notícias menosprezam incompreensívelmente, talvez porque contraria o alarmismo pretendido.
O que as autoridades competentes deviam fazer era estudar os mecanismos que conduziram, sem os famosos radares, a este excelente resultado para explorar o seu aprofundamento.

sábado, 3 de novembro de 2007

Uma tragédia usada para manipular as opiniões



O lamentável acidente de ontem, junto ao Terreiro do Paço, que provocou dois mortos e um ferido muito grave foi imediatamente aproveitado para uma campanha despudorada por parte dos fundamentalistas do costume.

Sem cuidar de esclarecer as circunstâncias e causas do acidente, que ocorreu de madrugada num local desorganizado pelas obras do metro, partiu-se imediatamente para as acusações do costume aos automobilistas em geral, para a divulgação de números falaciosos e para a apresentação das soluções milagrosas.

Em vez de se discutir se havia ou não excesso de velocidade, se o sinal estava vermelho ou verde, se os peões respeitaram ou não a passadeira manipula-se os instintos mais primários dos cidadãos pelo recurso à divulgação dos detalhes mais escabrosos e fomenta-se uma atitude irracional em vez de propor a análise e a compreensão dos factos.

Os jornais tiveram um festim e encheram-se de títulos sensacionais:
"Acidente era uma tragédia à espera para acontecer"
"Maioria dos atropelados tem mais de 60 anos"
"Condutora acusada de duplo homicídio"
"Uma tragédia anunciada"
"Nem a doença as impediu de madrugar"

O Público titulava "Em Portugal há mais de 16 atropelamentos por dia". O DN era, apesar de tudo, mais comedido "Atropeladas 4 pessoas por dia em Lisboa e Porto". No contexto em que estes números eram apresentados o cidadão era levado a pensar que morrem 16 peões atropelados por dia. Tem que se dar ao trabalho de ultrapassar o título para ficar a saber que afinal, durante todo o ano de 2006, morreram realmente 137 peões em acidentes de viação (ou seja 0,4 peões por dia). O cancro do intestino grosso, por exemplo, mata 8 pessoas por dia em Portugal.

"Lisboa é a capital da insegurança", referiu o inevitável Manuel João Ramos, membro da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) ao Público e nós ficamos a pensar numa catástrofe. A verdade é que o relatório da DGV diz que morreram 11 (onze) pessoas por atropelamento em Lisboa durante todo o ano de 2006.

Esta manipulação tem o intuito de assustar os responsáveis políticos, que receiam ser acusados de negligência, e "flexibilizá-los" para aceitarem "soluções" como os dísticos da já famosa campanha "Risco Zero" ou a delimitação de "Zonas de 30 km/h".
Estas propostas são absurdas quando referidas a propósito do acidente em análise.
Este atropelamento, que todos lamentamos, seria evitado se o automóvel ostentasse o dístico de condutor perigoso ?
O local onde o acidente ocorreu tem velocidade máxima legal de 50 km/h. Alguém pensa que o acidente teria sido evitado no caso de o limite legal ser 30 km/h ?

Estamos perante mais um caso de descarada manipulação.

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P.S. Hoje dia 4, li no Público o anuncio de uma "homenagem às vítimas" promovida pela ACAM no local do acidente. Ao mesmo tempo invocava-se como co-responsáveis do acidente a CML e o Metro.
Trata-se de uma iniciativa repugnante destinada a tirar partido político de uma tragédia alheia.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

MAI estuda diferenciação entre bons e maus condutores

Público
2 de Novembro 2007



Dísticos de três cores diferentes, visíveis em todos os veículos, permitem identificar quem mais acidentes provoca.
Risco Zero é o nome do programa, já entregue e a ser alvo de análise do Ministério da Administração Interna (MAI), que visa reduzir a sinistralidade rodoviária. É um projecto que pretende premiar os automobilistas cujo desempenho nas estradas é imaculado e que, por outro lado, castiga os infractores. Dísticos de três cores, consoante o nível de confiança atribuído a cada um, deverão ser afixados nas viaturas. Para que todos saibam do que é capaz o indivíduo que conduz o carro ao lado do nosso.
Desenvolvido pela empresa Peres.n'partners, o programa preconiza a divisão dos condutores em três níveis. O primeiro, a quem é atribuído um dístico de cor verde, é destinado aos automobilistas de risco mínimo, ou seja, àqueles que, nos últimos três anos, não tenham originado nenhum sinistro automóvel com culpa ou que, nos últimos dez anos, só tenham sido culpados de um desses acidentes.
O segundo nível, o do condutor de risco médio, é identificável, por um dístico laranja. Os automobilistas que circulem com este símbolo são obrigatoriamente pessoas que no último ano tiveram responsabilidades em dois acidentes ou foram declarados culpados em três sinistros nos últimos dez anos.
Por fim surgem os condutores de risco máximo, identificados com a cor vermelha. Este dístico é atribuído a todos os que tenham provocado mais de dois acidentes no último ano ou aos que, nos últimos dez anos, tenham provocado quatro ou mais sinistros.
Os dísticos deverão ser colocados no canto inferior esquerdo de cada veículo (ao lado do condutor) e permanecer sempre visíveis.
O projecto prevê a criação de uma autoridade reguladora (um grupo de trabalho multidisciplinar de parceria público-privada que deverá ser financiado por fundos comunitários, ao abrigo do Programa Europeu de Prevenção Rodoviária). Esta entidade tem cinco tarefas fundamentais, sendo que uma delas é a da promoção de um sistema de avaliação que permita aos condutores situados nos níveis laranja e vermelho poderem ser reclassificados no respectivo nível de confiança.
Num primeiro passo, a entidade reguladora recebe a informação das seguradoras, detecta e avalia os sinistros automóveis culposos. O passo seguinte consiste na emissão do dístico a atribuir ao condutor, o qual lhe será enviado pela respectiva seguradora. O ponto número três diz que os sinistros automóveis são registados pelas companhias de seguros, sendo identificados os condutores culposos.
De seguida, surge a "recuperação de nível". Aqui, preconiza-se que através de cursos de sensibilização e reeducação ou por participação em actividades de cidadania rodoviária os condutores infractores tenham a possibilidade de tentar ascender a níveis de confiança superiores. A nova avaliação destes níveis ocorre de dois em dois anos (excepto para os condutores profissionais, que podem sujeitar-se aos mesmos anualmente).
Para atribuir o nível de confiança a cada automobilista serão analisados diversos parâmetros, tal como o tempo de carta de condução, o número de sinistros rodoviários culposos, o tipo de sinistros e o número de sinistros ocorridos em determinado período.

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O fundamentalismo na prevenção dos acidentes atinge um ponto alto com esta "ideia" absolutamente inaceitável e com laivos de nazismo. Os prevaricadores devem ser alvo de coimas e de privação de condução mas nunca de uma exposição pública em termos degradantes.
Não é digno de uma sociedade civilizada que aliás não faz isso nem aos criminosos mais repugnantes. Mostra até que ponto o fanatismo de quem se julga detentor da "verdade" pode levar.
O próximo passo seria concerteza um dístico na lapela para os fumadores e depois, talvez, um chapéu especial para os maiores de 50 anos que não tivessem feito um toque rectal no último ano (justificado pelo facto de o cancro do pulmão e o cancro da próstata matarem muito mais do que os acidentes de viação).

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

As verdadeiras causas dos acidentes (15)

A29 fechou durante nove horas devido a acidente
Público, 01 de Novembro 2007



Uma colisão entre dois pesados ocorrido na manhã de ontem, junto a Arcozelo, Vila Nova de Gaia, obrigou ao corte do tráfego na A29, nos dois sentidos, cerca das 11h00. Após limpeza da via e remoção dos pesados, o mesmo foi restabelecido, às 19h00, no sentido sul-norte, e por volta das 20h00, na direcção contrária. A interrupção de tráfego registou-se entre os nós da Granja e de São Félix da Marinha e o trânsito desta concorrida auto-estrada sem custos para o utilizador foi desviado para a A1 e para a Estrada Nacional n.º 109. Daqui resultou o congestionamento das vias alternativas à A29.
Nuno Salpico, presidente do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (OSEC), critica as condições de circulação na A29. O OSEC analisou esta via há três semanas, prevendo apresentar um relatório completo sobre a mesma antes do final do ano. Para já, Nuno Salpico aponta as distâncias de paragem em curva, "que deviam ter uma visibilidade mínima de 180 metros e existem lá curvas com cem metros". Salpico censura também o atrito do piso, que tem de ter uma macro-rugosidade mínima de 2mm, mas que na A29 é inferior. "Isto, em dias de chuva, pode provocar despistes em curva e aumenta as distâncias de travagem", avisa.
O embate mais aparatoso de ontem sucedeu no sentido norte-sul e envolveu um pesado carregado de cereais que embateu na traseira de um camião-cisterna que transportava gasóleo (por sua vez, o choque entre os dois camiões já resultara de um primeiro embate que tornou o trânsito mais lento). Do choque entre os pesados resultou um ferido ligeiro, o condutor do camião de cereais. Pouco depois deu-se mais um acidente, cerca de 20 metros atrás dos pesados e que envolveu quatro ligeiros.
A seguir a estes três acidentes e por "provável curiosidade", conforme referiu o tenente Silva Lopes da Brigada de Trânsito da GNR, aconteceram mais dois choques em sentido contrário (sul-norte), um com três carros e outro com quatro.

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Os ingredientes são: estradas com deficiências e má gestão dos trabalhos pós-acidente.