terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A maioria das estradas têm limites de velocidade abaixo do que deviam


Público 19.01.2009
“Mais de metade dos troços rodoviários em Portugal estão com limites de velocidade abaixo do que deviam. É muito recorrente o limite de 50 Km/hora em zonas onde não há casas nem outros conflitos laterais”, disse hoje à Lusa Ana Bastos, com base em conclusões preliminares de vários estudos que a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) tem desenvolvido.
A especialista em transportes e segurança rodoviárias, docente na FCTUC, frisou que a desadequação do limite de velocidade às características da estrada “viola as naturais expectativas do condutor, que acaba por transgredir” e tem como efeito “o descrédito total” das regras de trânsito.
“O que se tem feito em Portugal, em estradas que atravessam localidades, é colocar um semáforo de limite de velocidade. O efeito é instantâneo, mas a reacção do condutor imediatamente a seguir será aumentar de novo a velocidade”, alerta Ana Bastos.
As situações “completamente desajustadas da realidade” resultam de em Portugal “não existirem critérios técnicos para estabelecer os limites de velocidade”, observou.
A investigadora falava à Lusa a propósito de um projecto, denominado "Safespeed - Estratégias de Gestão de Velocidade", que arrancou há um ano e visa criar um sistema que permita adaptar o limite de velocidade legal às características da via, obrigando o condutor a respeitar esse limite, através de ferramentas de “coacção física e psicológica”.
A definição dos critérios técnicos deverá estar concluída dentro de dois anos, com a finalização de um modelo informático “capaz de estimar, para cada situação, a velocidade expectável face às características da estrada e do seu ambiente envolvente”.
Para obrigar o condutor a respeitar a velocidade legal estabelecida, induzindo-o a adoptar comportamentos compatíveis com o ambiente rodoviário que atravessa, serão definidas “medidas de acalmia de tráfego”.
Rotundas, gincanas, alteração de pavimento ou reforço da iluminação pública são algumas das soluções, que actuam "quer fisicamente quer por coação psicológica sobre o condutor, impedindo-o de adoptar comportamentos desajustados à velocidade pretendida", refere a FCTUC numa nota de imprensa hoje divulgada.
O estudo, que tem o apoio da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária, abrange a zona Norte do país, nomeadamente Famalicão, Guimarães, Braga e Felgueiras, mas o objectivo é que as conclusões sejam aplicadas em todo o país.
Além da FCTUC, participam no projecto a Faculdade de Engenharia do Porto (FEUP) e a Universidade do Minho, num total de oito investigadores.
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Safespeed

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Desenvolver uma ferramenta de apoio à definição dos limites de velocidade adequados a cada ambiente rodoviário (urbano, suburbano, rural) e soluções integradas de traçado capazes de reduzir o número de acidentes rodoviários nas estradas portuguesas são os objectivos centrais do projecto, em curso, SafeSpeed – Estratégias de gestão da velocidade: um instrumento para a implementação de soluções de gestão rodoviária seguras e eficientes.

O projecto – que reúne oito investigadores das Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e de Engenharia do Porto (FEUP) e da Universidade do Minho, apoiados por alunos de Doutoramento, e é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) – desenvolve-se em três fases essenciais: a primeira (a decorrer), consiste no desenvolvimento de um modelo macro capaz de explicar os acidentes rodoviários, tendo por base um conjunto de variáveis explicativas (entre as quais a velocidade) e os dados de sinistralidade nacional.A segunda etapa do SafeSpeed, que tem a colaboração da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, passa por perceber os efeitos que um conjunto alargado de factores (ambiente rodoviário; factores humanos; condições de tráfego; tipologia dos cruzamentos, etc.) assume na velocidade seleccionada pelos condutores. Desta fase resultará um modelo capaz de estimar, para cada situação, a velocidade expectável face às características da estrada e do seu ambiente envolvente.Por último, será desenvolvido um modelo informático de apoio à decisão para gestão de velocidade num qualquer itinerário rodoviário, apoiando a definição da velocidade legal mais adequada a cada caso, tendo por base não só as características gerais da estrada, mas também a eventual presença de utilizadores vulneráveis.O resultado final passa ainda pela criação, para cada velocidade legal, de soluções capazes de induzir naturalmente o condutor a adoptar comportamentos compatíveis com o ambiente rodoviário que atravessa.

Isso será conseguido através da utilização de medidas de acalmia de tráfego que podem passar, por exemplo, pela implantação de rotundas, gincanas, alteração de pavimentos, ou reforço da iluminação pública. Estas medidas actuam, quer fisicamente, quer por coação psicológica sobre o condutor impedindo-o de adoptar comportamentos desajustados à velocidade pretendida.A adopção de diferentes limites de velocidade e a implementação de condições de circulação específicas “é uma necessidade imperiosa porque em Portugal não há critérios técnicos para estabelecer os limites de velocidade" – sendo possível identificar situações completamente desajustadas à realidade.


Alteração de limites
"Devido à dinâmica do ordenamento do território haverá ambientes rodoviários onde se justifica a alteração dos limites legais actualmente impostos”, afirmam os investigadores.O SafeSpeeds é um estudo de extrema complexidade porque “trata-se da alteração radical do actual paradigma dos traçados das estradas portuguesas”, explica Ana Bastos. A investigadora da FCTUC assinala ainda que "até à década de 90, o traçado das estradas assentava essencialmente em preocupações de garantia de velocidades e níveis de serviço elevados. Desde então, a comunidade internacional valoriza, cada vez mais, a capacidade de adaptar os traçados das estradas às exigências e actividades urbanas locais".Os resultados dirigem-se particularmente ao tratamento de estradas nacionais e regionais com atravessamento sistemático de localidades, devendo os investigadores recorrer a diversas ferramentas entre as quais: um veículo instrumentado provido de sensores, sistemas GPS e vídeo, um simulador de tráfego em laboratório e radares fixos e móveis.

Publicado em Ciência Hoje , 19.01.2009

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Já não é sem tempo que a prevenção se começa a basear em critérios fundamentados e de base científica em vez do fundamentalismo ideológico até agora vigente.

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Teimosia cara

IOL
08.01.2009


O governo quer apostar numa rede nacional de radares para reduzir a sinistralidade nas estradas portuguesas. Nos próximos anos, vão ser instalados 300 equipamentos de controlo de velocidade de norte a sul do país. Os primeiros concursos públicos vão ser lançados já em 2010.
Até 2015 Portugal deverá estar no top 10 dos países da União Europeia com menos sinistralidade. A meta foi traçada pelo ministro da Administração Interna, Rui Pereira que quer controlar um dos maiores responsáveis pelos acidentes nas estradas nacionais: o excesso de velocidade.
Em 2009, Portugal atingiu o valor mais baixo em relação ao número de mortos nas estradas: 738. Também no ano passado registaram-se menos feridos graves. Falta agora saber o número total de acidentes, que deverá ser divulgada em Março, no relatório nacional relativo a 2009.
Além dos radares há outras medidas a adoptar: melhorar a sinalização nas estradas e aperfeiçoar o ensino da condução. Apesar dos últimos dados serem animadores, feitas as contas, os acidentes de viação afectam, em média, cinco pessoas por hora, causando-lhes a morte ou ferimentos.

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Apesar da substancial e constante redução do número de vítimas nos últimos anos, sem radares, o governo insiste em gastar recursos preciosos para controlar a velocidade que nem sequer é a principal causa dos acidentes.

Vai fazer-se uma despesa enorme na instalação e depois também na manutenção e gestão da rede de radares sem qualquer garantia de resultados. Como já ficou claro a melhoria das vias e da segurança dos veículos, só por si, reduziram o número de mortos anuais de mais de 1800 para 738. É muito fácil gastar o dinheiro dos outros, ou seja, o nosso.

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

(Só) Dois mortos por dia nas estradas

Diário de Notícias
06.01.2010



Gravidade dos acidentes rodoviários diminui desde 1998, com novas leis e mais condições de segurança.
Os acidentes rodoviários registados em 2009 causaram uma média de duas vítimas mortais por dia, revelam dados ainda provisórios recolhidos pelo DN junto de várias fontes ligadas a este sector. "Os números da sinistralidade do ano de 2009 revelam uma diminuição em relação aos anos anteriores, que se verifica tanto no número de mortos, como no número de feridos graves", referiu ao DN fonte oficial do Ministério da Administração Interna, que hoje apresenta os dados definitivos.
Os números provisórios recolhidos pelo DN apontam para um total de cerca de 730 vítimas mortais em 2009, o que se traduz numa redução de quase 50 mortos em relação aos 776 registados em 2008. Mantém-se assim a tendência de redução que se tem verificado desde 1998, ano em que morreram 1865 pessoas nas estradas portuguesas.
Estes dados (ver gráfico) comprovam que estão a ser atingidos os resultados traçados pelo Plano Nacional de Prevenção Rodoviária, que para 2009 tinha como objectivo um número máximo de 874 vítimas mortais. Afinal, registaram-se cerca de 730 mortos, uma diferença ainda considerável.
Nos últimos cinco anos, verifica-se que a média de três mortos por dia registada em 2005 baixou para uma média de dois em 2009, representando uma redução de 33% (ver gráfico). Em Espanha, essa média diária desceu de nove para cinco, traduzindo-se num decréscimo de 42%.
Para a redução da sinistralidade rodoviária em Portugal tem contribuído, além do reforço da fiscalização e do agravamento das penalizações aplicadas (ver caixa), a melhoria da segurança dos automóveis, das condições das estradas e da qualidade do ensino da condução, refere João Dias, engenheiro do Instituto de Mecânica, do Instituto Superior Técnico.
Segundo disse ao DN, "nos últimos 15 anos a segurança dos automóveis passou para a ordem do dia. Evoluiu imenso e fez reduzir muito o número de vítimas, principalmente dos ocupantes de automóveis. Essa redução não se verifica nos casos dos motociclos e dos peões, pois nesses casos não há melhoria dos sistemas de segurança", como sucede nos carros.
"As vias também melhoraram muito e Portugal passou a ser o País da Europa com mais quilómetros de auto-estrada por área e por habitante", refere João Dias. "A probabilidade de uma pessoa ficar gravemente ferida ou morrer é muito menor numa auto-estrada que na estrada nacional", frisou.
Sublinha que "a emergência médica também evoluiu muito nos últimos dez anos, com a criação do INEM. A rapidez de assistência e os meios utilizados salvam muito mais pessoas do que antes, em que estes serviços se resumiam a uma ambulância dos bombeiros com uma maca e uma mala de primeiros socorros".

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Finalmente uma apreciação realista e equilibrada sobre a sinistralidade e a sua diminuição progressiva.

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