TSF
18 Novembro 2007
O ministro da Administração Interna rejeitou, este domingo, as acusações da Associação Estrada Viva de que o Governo está tirar proveito político do Dia da Memória das Vítimas da Estrada.
Em todo o país estão programadadas accções do Governo e das Forças de Segurança, numa campanha de sensibilização por causa da segurança nas estradas. O objectivo é que, durante o dia de hoje, não se registem acidentes graves.
Ouvido pela TSF, Manuel João Ramos, da organização Estrada Viva, acusou o Governo de estar a desvirtuar um dia que devia ser de recordação.«É óbvio que se trata de aproveitamento político. É óbvio que há um grande mal-estar no Governo pelo facto de nós termos andado a chamar à atenção para aquilo que não está a ser feito, sendo que alguém teve a ideia de fazer uma campanha de segurança rodoviária no Dia da Memória», considerou.
Reagindo às acusações de que as cerimónias de hoje são aproveitamento político de uma tragédia, o ministro recusou liminarmente essa leitura. «Não há nenhum aproveitamento político, não estamos num dia de festa, mas sim num dia de pesar, de responsabilidade», disse Rui Pereira, frisando que o exercício a que assistiu visou sensibilizar a população, e as crianças em particular, para «a importância do comportamento responsável em relação à estrada» e que a sua presença «simboliza a importância que o Governo dá a este combate».Quanto ao aumento do número de mortos nas estradas este ano, Rui Pereira recordou que só o recente acidente na A23 foi responsável por 16 vítimas mortais, mas disse preferir esperar pelo final do ano para fazer um balanço. «Em comparação com o período homólogo de 2006, repito que é prematuro fazer balanços. Há menos acidentes graves e menos acidentes.
Em relação ao número de mortos faremos contas no fim do ano», afirmou. O ministro realçou a evolução registada desde meados da década de 80, quando os mortos na estrada ultrapassavam os 2.500 por ano, descendo pela primeira vez para menos de 1.500 em 2001, quando era secretário de Estado da Administração Interna, e para menos de mil em 2006. «É preciso estabilizar esse resultado, garantir que não é um acaso, que conseguimos consolidar e que este é um esforço nacional que corresponde à afirmação de uma civilização solidária, em que as pessoas têm condutas responsáveis e cívicas», acrescentou.
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Se vamos falar em aproveitamento políico não sei quem possa acusar quem. Será que o ministro se esqueceu de algum subsídio ?
10 comentários:
A ideia do Dia da Memória é não esquecer. Os mortos são nossos. E nós que os temos, pagamos pela sua condição de mortos todos os dias da nossa vida. Tenha respeito senhor, se quer ser respeitado
Desrespeitar as vítimas é exibir as emoções na praça pública para obter vantagens.
2004-11-15 - 00:00:00
Dia da Memória - Tragédia nas estradas não escolhe vítimas
LIGA COMBATE TRAUMA DOS ACIDENTES
No próximo domingo recordam-se as vítimas dos acidentes de trânsito. Uma forma de combater a guerra civil que se trava nas estradas de Portugal. Ao longo da semana, o CM publica uma série de trabalhos alusivos, apontando os pontos negros do mapa rodoviário, ouvindo vítimas e consultando especialistas.
d.r.
Na memória, Manuel João Ramos guarda a filha morta nos seus braços. O desespero do bombeiro de 17 anos que o acompanhou ao hospital depois do acidente na Guarda. O tempo que esperou, mais tarde em Coimbra, para onde foi transportado por não haver uma equipa preparada para o tratar. Guarda também a vontade de lutar contra histórias iguais às dele. Foi por isso que criou a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), que hoje, em cooperação com dezenas de associações, formam a ‘Estrada Viva – Liga contra o Trauma’. Para que o número de vítimas rodoviárias que vão ser recordadas no dia 21, o Dia Mundial da Memória, não aumente.
“Mais intervenção, mais acompanhamento, mais integração. Um acidente rodoviário tem impacto a todos os níveis da sociedade. No entanto, não há coordenação nem empenho por parte das entidades estatais”, denunciou ao CM Manuel João Ramos, presidente da ACA-M.
É para colmatar falhas como essas que dezenas de associações profissionais e cívicas coordenam esforços para ajudar e apoiar vítimas de acidentes e familiares. Esforço que fez nascer a ‘Estrada Viva – Liga Contra o Trauma’, que pretende sensibilizar o Estado para estas deficiências.
“O facto de existirem enfermeiros e médicos integrados na Liga significa que eles próprios estão sensibilizados para a falta de meios”, diz o dirigente.
“Se reparar, a Associação de Prevenção Rodoviária não integra a Liga, porque não é composta por cidadãos interessados, mas sim por dirigentes de vários grupos económicos aos quais não interessa a segurança. É uma empresa encapotada de associação”, afirma.
A revolta do presidente da ACA-M é igual à de centenas de pais que perderam os filhos nas estradas. E é para impedir que os números de mortes continuem a aumentar que escolheram o terceiro domingo do mês de Novembro, o Dia Mundial da Memória, para apresentar, em Évora, a ‘Estrada Viva – Liga contra o Trauma’. O objectivo é sensibilizar para a prevenção e promover investigação e promoção de profissionais no tratamento.
TRADIÇÃO INGLESA NO MUNDO
A tradição de recordar as vítimas de acidentes rodoviários nasceu no seio da Igreja Protestante inglesa, em meados da década de 90, como forma de, através de testemunhos directos, libertar o coração dos familiares e sensibilizar os ouvintes. Em 1997, a Federação Europeia de Vítimas na Estrada consagrou o terceiro domingo de Novembro, o mês dos Mortos, como o Dia Europeu da Memória.
A sua celebração fazia-se no sentido laico e também no sentido religioso. Pouco tempo depois, o Papa João Paulo II decide estender aquela celebração ao resto do mundo. No próximo domingo, 21 de Novembro, Dia da Memória, será altura de recordar, com várias iniciativas um pouco por todo o País, todas as histórias de vida que, de forma brutal, terminaram nas estradas portuguesas.
TRAUMA
A ideia de combate ao trauma, uma das iniciativas que vai ser apresentada no Dia da Memória, surgiu, de acordo com Manuel João Ramos, numa conferência na Ordem dos Médicos. “A Sociedade Portuguesa de Cirurgia promoveu um colóquio sobre o Trauma. Nós pensámos no trauma rodoviário. E daqui o nome ‘Estrada Viva’”, explicou.
A vontade de Filomena Araújo também contribuiu para que o projecto da Liga seguisse em frente. No dia 15 de Agosto, a médica perdeu o filho de 23 anos num trágico acidente em Montargil. Desde então está a ser acompanhada psicologicamente pela associação ‘A Nossa Âncora’. “Não podem continuar a ser ceifadas vidas na estrada”, disse numa entrevista ao CM, em Setembro.
2006-11-19 - 00:00:00
Estradas - 25 milhões de mortos
Iuri tinha só 13 anos
Uma criança de 13 anos morreu na sequência do despiste de uma viatura ligeira, sexta-feira, às
22h00, na Auto-estrada da Beira Interior (A23), próximo de Vila Velha de Ródão, numa zona considerada pelos bombeiros “muito perigosa” quando está a chover. O desastre provocou ainda mais três feridos ligeiros e um grave, todos membros da mesma família.
Hoje, aliás, celebra-se o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada,instituído em 2002 pelo Papa João Paulo II. Em Portugal morreram 70 mil pessoas devido a acidentes rodoviários no século XX. No Mundo inteiro, as estradas fizeram mais de 25 milhões de mortos.
A morte de Iuri, de acordo com a Brigada de Trânsito (BT) da GNR de Castelo Branco, aconteceu no quilómetro 84,1 da A23, no sentido Torres Novas-Guarda, quando a viatura onde seguia com os avós e dois tios se despistou e galgou o
separador lateral, ficando imobilizada na berma.
António Gonçalves, comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Velha de Ródão, diz que na altura do acidente “chovia com muita intensidade”, presumindo-se que terá sido provocado “por ‘lençol’ de água”. “O condutor e a pessoa que viajava ao lado saíram do carro pelo próprio pé, mas os três que seguiam no banco traseiro ficaram encarcerados, entre eles o rapaz que veio a falecer”, explica o bombeiro, salientando que, quando chove, a curva onde se deu o despiste “é muito perigosa”.
Os sinistrados, residentes em Casal das Corgas, Almargem do Bispo, Sintra, e que tencionavam passar o fim-de-semana na zona de Castelo Branco, foram assistidos no local por uma equipa do INEM.
“Os médicos fizeram várias tentativas de reanimação mas o jovem acabou por falecer no local”, acrescenta António Gonçalves.
Os feridos, com idades entre os 21 e os 63 anos, foram transportados para o Hospital de Castelo Branco,
mas, durante a madrugada, o mais grave foi transferido para os Hospitais da Universidade de Coimbra. Os três restantes foram encaminhados para o hospital da área de sua residência.
LEMBRAR OS MORTOS
Preocupado com o aumento exponencial do número de vítimas na estrada, João Paulo II promoveu a transformação do dia que começou por ser Europeu (desde 1995) em Mundial, uma data reconhecida pela
Organização das Nações Unidas.
Portugal assinala, pela quinta vez, o Dia da Memória, com o lançamento de um monumento (a construir em Lisboa) e a apresentação de um livro alusivo aos memoriais à beira das estradas.
Lisboa, Vila Real e Évora
são algumas das cidades onde será evocada a Memória das Vítimas da Estrada.
AS ÚLTIMAS TRAGÉDIAS NAS ESTRADAS PORTUGUESAS
COLISÃO NA A23 FEZ DOIS MORTOS
Na manhã de 30 de Outubro, o choque violento entre um automóvel e um semi-reboque carregado de areia provocou dois mortos e um ferido grave, na A23, próximo do nó de saída para o Gavião. As vítimas mortais e o ferido iam trabalhar para Vila Velha de Ródão, quando chocaram na traseira do pesado. O excesso de velocidade e o provável adormecimento do condutor do automóvel terão estado na origem do acidente.
MORTE AO VOLANTE À PORTA DE CASA
Carlos Brito tinha 19 anos e o seu amigo Hugo, que conduzia o carro, 28. Morreram ambos a 9 de
Setembro passado, quando o Ford Focus em que seguiam se despistou e foi embater contra o muro da
casa da família de Carlos, em Tunes. Inconsolável, o pai, Avelino Brito, quer deixar a habitação: “Todos os dias quando abro a porta vejo o sítio em que o meu filho morreu. É insuportável”, confessou ao CM..
TRÊS VIDAS CEIFADAS
Um casal, de 51 anos, e uma nora, de 25, tiveram morte imediata na sequência da colisão de duas viaturas ligeiras ocorrida no passado dia 6 deste mês, no IP3, em Fail, Viseu. A viatura onde seguiam as vítimas despistou-se e foi embater noutro carro que viajava em sentido contrário.
NÚMEROS DAS ESTRADAS
- 807: Número de mortos registado nas nossas estradas até 4 de Novembro. Este valor representa uma
redução de 27 por cento face a igual período do ano passado. O que representa a maior redução de
sempre no número de vítimas mortais
- 26 361: Acidentes de viação registados nos primeiros nove meses do ano. Menos 948 casos do que em igual período do ano passado
- 18 978: Acidentes registados nos primeiros nove meses deste ano dentro das localidades. Destes, 13 599 verificaram-se em arruamentos
- 312: Atropelamentos com fuga nos primeiros nove meses deste ano. Destes, resultaram 32 mortos e
feridos. No ano passado morreram onze pessoas vítimas de atropelamento com fuga. No total foram vítimas mortais de atropelamento 183 pessoas
- 27: Crianças menores de 14 anos morreram em 2005 vítimas de acidentes nas estradas. O maior número de casos, 13, resultou em acidentes em que viajavam como passageiros. Como peões foram observados nove casos mortais. Houve ainda a morte de cinco rapazes que faleceram como condutores - 86 pessoas morreram nas auto-estradas portuguesas em 2005. Faleceram ainda 467 nas estradas nacionais e 118 nas vias classificadas como itinerários principais e complementares
- 2534 mortos nas estradas. Ocorreram em 1988, ano em que se observou o número mais elevado de
mortos. Portugal observa uma queda contínua dos óbitos. No ano passado, com 1094 mortes, foi registado o valor mais baixo.
ÓRFÃS DOS OLIVAIS ESPERAM POR APOIO
A família do casal que há uma semana foi vítima de um brutal acidente nos Olivais, em Lisboa, perante o olhar das duas filhas menores, não recebeu qualquer apoio psicológico, social ou jurídico de instituições
públicas ou privadas.
Ana Margarida, de dez anos, e Susana, de 13, ajudavam os pais, Ângela e Carlos Soares, a fazer as
mudanças para a casa que iam habitar na Rua Cidade da Beira, quando um carro a alta velocidade
esmagou o casal contra a carrinha que estavam a descarregar.
“Ninguém nos contactou. Há duas crianças que ficaram órfãs e ninguém quer saber. Não nos informam, nem dão orientações”, disse ao CM João Sogalho, um dos cinco irmãos de Ângela.
A avó materna, que acolheu Ana Margarida (a irmã Susana optou pelos avós paternos), também não
escondeu a sua revolta: “Nem uma assistente social, nem um psicólogo. Nada. As duas meninas deviam ficar juntas. Comigo ou com os avós maternos.”
Uma fonte do Tribunal de Família e Menores explicou ao CM que, nestes casos, o Ministério Público é o
responsável pelo processo de tutela e que enquanto não houver uma decisão judicial, as duas irmãs vão ficar com os avós.
Carlos Correia, o condutor do carro que esmagou Carlos e Ângela, tinha estado a beber água-pé e cerveja e a comer castanhas com um colega de trabalho, quando ambos resolveram fazer uma corrida. Depois do acidente, Carlos Correia, técnico de elevadores da empresa Schindler, foi ao hospital fazer testes ao sangue. O resultado deve ser conhecido no decorrer desta semana.
AUTO-MOBILIZADOS CONTESTAM VERBAS
A Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) contesta as opções seguidas pelo Governo na
atribuição de verbas para o combate da sinistralidade. Manuel João Ramos, presidente da associação, confirmou ao CM que o secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, “não cumpriu a
promessa de entregar dez mil euros para assinalar o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada”,
iniciativa organizada pela Estrada Viva – Liga Contra o Trauma, entidade da qual faz parte a ACA-M.
“A justificação que nos foi dada foi que qualquer financiamento da Direcção-Geral de Viação terá de estar sujeito a concurso público, pelo que o secretário de Estado anulou a atribuição deste dinheiro”, disse.
Manuel João Ramos sublinhou, contudo, que a mesma decisão não foi tomada na concessão de 750 mil
euros à Prevenção Rodoviária Portuguesa. “O dinheiro foi-lhes entregue sem concurso público e sem
anulação posterior, numa decisão que criticamos”, sustentou. Manuel João Ramos adiantou que foi o
secretário de Estado que sugeriu dar a verba à Estrada Viva. “Nós não pedimos nada”, disse.
O DIA DA MEMÓRIA
LAÇO DA SINISTRALIDADE
Um laço negro, símbolo da sinistralidade, vai ser distribuído em Lisboa, na Basílica da Estrela e em três centros comerciais.
GOVERNO EM VILA REAL
O secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, vai estar em Vila Real, na Escola Fixa de Trânsito.
BALÕES EM LISBOA
O lançamento de 500 balões brancos, às 13h00, no Jardim da Estrela, em Lisboa, reforça o simbolismo do dia.
SINOS TOCAM EM ÉVORA
Évora associa-se a este dia com o toque dos sinos das igrejas da cidade, um passeio seguro e a
inauguração do ‘Jardim da Memória’.
Octávio Lopes com L.O./Sónia Simões/ J.S.
Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada
A Federação Europeia de Vítimas da Estrada – FEVR iniciou em 1995 a celebração anual do Dia Europeu em Memória das Vítimas da Estrada.
Em 2002, o Sumo Pontífice Romano, o falecido Papa João Paulo II, perante o aumento exponencial do número de vítimas de desastres rodoviários no mundo (é hoje a nona mais importante causa de morte, prevendo a OMS que se torne a terceira, em 2020), promoveu a transformação deste Dia Europeu em Dia Mundial.
No dia 25 de Outubro, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou em Resolução a adopção oficial, por aquele organismo internacional, do Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada.
O Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada é celebrado anualmente no terceiro domingo do mês de Novembro.
O espírito desta celebração é de que a evocação pública da memória daqueles que perderam a vida ou a saúde nas estradas e ruas portuguesas significa um reconhecimento, por parte do estado e da sociedade, da trágica dimensão da sinistralidade, e ajuda os sobreviventes a conviver com o trauma de memórias dolorosas resultantes dos desastres rodoviários.
A organização da celebração foi assegurada desde 2004 pela “ESTRADA VIVA – Liga contra o Trauma”, que integra um conjunto alargado de organizações e personalidades.
Esta Liga foi apresentada ao público em 2004, durante as celebrações do Dia da Memória, em Évora.
A solução para os desgostos e os traumas não pode ser a culpabilização e o castigo indiscriminado da generalidade dos cidadãos. Isso é o que acontece quando se escolhe as soluções não por serem eficazes mas por serem penosas para a generalidade dos cidadãos.
Fatalidades acontecem todos os dias e em muitas áreas. Muitas delas são inevitáveis. A esmagadora maioria resulta de casos fortuitos. Só um pequeníssimo número resulta de comportamentos assumidamente anti-sociais.
É preciso aprender a viver com estes factos.
Acho que o caminho é tentar compreender cada vez melhor aquilo que propicia ou causa os acidentes.
Em vez da dramatização e das emoções culpabilizantes devemos apelar à inteligência e ganhar os cidadãos para medidas que racionalmente se possam justificar.
Nada será conseguido pela culpabilização geral.
Aqueles que sofreram com a perda de entes queridos, por muito respeito que mereçam, não estarão provavelmente em condições de conduzir tão complexo trabalho.
5 PERGUNTAS A ALCINO CRUZ (Presidente da APEC)
Em Outubro de 2002, Alcino Cruz, Presidente da Associação Portuguesa de Escolas de Condução (APEC), foi apanhado a conduzir a 224 km/h na A6, que liga Lisboa a Elvas.
Continua a bater-se contra os limites de velocidade impostos pelo Código da Estrada. A sua opinião não é apenas reflexo de ter sido apanhado a conduzir em excesso de velocidade?
Não. Em Portugal, os limites de velocidades estão desadequados à realidade das vias públicas. Pode ser perigoso conduzir no meio do Bairro Alto a 50 km/h, mas não o será na Avenida Lusíada, entre o Hospital de Santa Maria e Benfica. A lei é demasiado abstracta e só existe para a polícia poder fazer caça à multa.
Mesmo não concordando com a lei, não está arrependido de andar a 224 km/h numa auto-estrada?
Não. Ia numa recta longa da A6, a guiar um carro de alta cilindrada e não havia quase ninguém na via. Um estudo recente feito nas auto-estradas conclui que nenhum veículo ligeiro de passageiros circula a menos de 120 km/h em Portugal. E ainda bem que não se cumprem as regras, porque se os condutores andassem mais devagar nas auto-estradas havia ainda mais acidentes.
Mas quem viaja a uma velocidade mais rápida tem menos tempo de reacção
Não concordo. A maior parte dos acidentes nas auto-estradas dá-se em velocidades baixas: o condutor adormeceu, ia sob efeito de medicamentos, de álcool, etc. Prova disso é que em muitos deles não há sinais de travagem antes do despiste.
Se fosse legislador quais seriam as suas normas na questão da velocidade?
Baseava-me na lei de 1970: nas rectas das auto-estradas não haveria limite máximo de velocidade e nas curvas, imporia um limite entre 120 e 160 km/h. Nos IP, o máximo seria de 150 km/h (em rectas) e 80 km/h (em curvas).
Dois anos depois, como está o seu caso?
A minha contra-ordenação é considerada muito grave: circulava a mais de 60 km/h do que a velocidade permitida. Ou seja, podia ter ficado inibido de conduzir entre dois meses a dois anos. Mas não tive qualquer tipo de sanção.
MEMÓRIA E AMNÉSIA
A 14 de Agosto de 2004, num dia de calor infernal, João Cordeiro, de 23 anos, foi o único sobrevivente de um choque frontal que matou sete jovens, na sangrenta Nacional 2 perto da Barragem de Montargil.
“Os meus familiares dizem para eu agradecer à Nossa Senhora e chamam-me de herói. Mas fiquei vivo por mero acaso e não por obra de uma qualquer força divina”, argumenta o estudante da Universidade Católica do Porto, do curso de Som e Imagem. “Não sou nem passei a ser religioso.”
Ele, a sua namorada italiana, Stella e o amigo de infância, Nuno Araújo, que guiava o carro, vinham do parque de campismo da barragem depois de terem realizado um documentário para o Ministério da Saúde. Planeavam ir de férias no dia seguinte para a Suíça, a bordo do velhote Fiat Panda.
Na direcção contrária da EN2, cinco jovens entre os 17 e 19 anos aproveitavam para dar uma volta num Nissan Primera, enquanto decorria um casamento de um casal amigo. Testemunhas asseguram que iam no ‘picanço’ com outra viatura. “Como é uma estrada pouco movimentada, os condutores têm a mania de acelerarem a fundo.
Mas esquecem-se que há dezenas de cruzamentos para vias secundárias”, conta João.
Numa ultrapassagem mal calculada, o Nissan, que provavelmente rodava em excesso de velocidade, embateu de frente no Panda. O carro foi projectado a uma distância de 30 metros, na única clareira das redondezas. “Chocámos numa recta que tem pouca visibilidade porque existe uma lomba”, conta João, que não se consegue recordar dos pormenores do acidente. Ficou com uma amnésia devido ao trauma.
“Mal me lembro onde almoçámos nesse dia e o que comemos. Mas não tenho medo que a memória me pregue uma partida, e quando menos esperar, venha a recordar-se do acidente. Quero estar preparado para o pior.”
As outra sequelas do furioso embate estão à vista: “O choque quase me desfez o joelho e partiu-me o cotovelo. A recuperação pode demorar três anos”. Enquanto espera, tem de andar apoiado em muletas.
VÍDEO CHOQUE
Embora o alentejano não conhecesse nenhum dos miúdos que viajava no outro veículo, descobriu que o condutor, David Marques, de 20 anos, era seu vizinho e filho do ex-árbitro Bento Marques. Ironia do destino: o seu amigo falecido Nuno Araújo fora chefe de David nos escuteiros.
Antes do acidente, o jovem nem era um condutor exemplar. “Cometi os meus excessos como muitos miúdos da minha geração: já guiei alcoolizado e ultrapassei em traços contínuos. Não tinha consciência de condução pública. Hoje, fico logo nervoso se vejo alguém ao volante e a falar ao telemóvel ao mesmo tempo.”
A experiência traumática do Verão inspirou-o a realizar um vídeo de sensibilização rodoviária.
“Aproveitei os meus conhecimentos de som e imagem para fazer algo de útil.” João passou semanas a filmar e a entrevistar outras vítimas de acidentes de viação, na Unidade de Ortopedia do Hospital de Évora, onde esteve internado. “É um filme duro. Espero que contribua para prevenir acidentes.”
Caro anónimo, as suas intervenções compulsivas demonstram que está incapaz de fazer uma abordagem racional da sinistralidade.
Como sempre o mais fraco é quem paga. Tenho muito respeito por todos os que tiveram a infelicidade de ser tocados pela fatalidade de um acidente, mas em memória dos que morreram, não podemos deixar de clamar bem alto que não é nem nunca será com medidas artificiosas para aumentar as receitas do estado, que a sinistralidade vai diminuir. Nunca ouvimos as brilhantes cabeças falarem de estradas com traçados aberrantes, pisos esburacados, alterações às divisórias em zonas consideradas perigosas, que as tornam em verdadeiros atentados à circulação, pontes que caem sem haver responsáveis, lombas sem qualquer sinalização em que os condutores só se apercebem quando vão no ar, tampas de esgoto com 30 ou 40 cms acima ou abaixo do piso, que arrancam suspensões, destroem jantes e rebentam pneus e originam despistes com maiores ou menores consequências. Quanto aos responsáveis por estas situações, ou não existem, porque tudo isto são maledicências de pessoas mal intencionadas, ou quando aparecem são sempre ilibados, porque o incompetente do executante não soube pôr em prática a ordem tão brilhantemente transmitida.
Nunca ouvimos falar da formação inadequada de novos condutores, a qual não lhes transmite os ensinamentos básicos para eventuais correcções de situações de emergência, a necessidade de uma condução defensiva e civicamente correcta, a experiência das consequências do que a velocidade em excesso pode originar, de um código de estrada revisto e adaptado à evolução da circulação rodoviária, talvez com menos coimas, mas mais definidora de normas de conduta para os condutores e mais penalizante no que respeita à responsabilidade criminal dos mesmos.
Não basta comprar carros de alta cilindrada descaracterizados e pô-los nas auto estradas a provocar quem lá circula, eu já assisti na A2, para depois passar a multa e arrecadar mais umas centenas ou milhar de euros para o estado. Sem dúvida que o excesso de velocidade é uma causa de sinistros, mas não é só, e gostava que alguém elaborasse um estudo sério e independente onde se determinasse qual o verdadeiro peso do excesso de velocidade no global dos acidentes. Vemos todos os dias, e sempre que há um acidente, de imediato os "peritos" ocasionais chegarem à conclusão de que tudo foi causado pelo excesso de velocidade. É evidente que veículos parados não causam acidentes...
Termino com um esgar de espanto face a uma notícia de hoje (19/11/2007), em que o relatório da GNR do acidente na A23 em que morreram 16 pessoas é inconclusivo, quanto às causas. É claro que, como alguns passageiros do autocarro sinistrado, afirmaram que não houve excesso de velocidade não há causas!!! nem conclusões !!!,
Espantoso !!!
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