segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Meta europeia para mortes na estrada não será atingida em 2009

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Público
10 de Dezembro 2007



O objectivo da União Europeia (UE) era reduzir para 50 por cento o número de mortos e de feridos graves relativamente à média de 1998-2000. Mas em Portugal a diminuição da sinistralidade rodoviária estava a descer de forma tão significativa que o Governo decidiu antecipar a meta para 2009 mas agora não será possível cumpri-la.
No ano passado parte do objectivo foi alcançado. Este ano, com o aumento de quase cinco por cento no número de mortos nas estradas até 2 de Dezembro e prevendo que o resto do mês mantém pelo menos os níveis de 2006, voltaremos atrás.

Paulo Marques, presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), admite que tal possa acontecer. Mas lembra que se ficará sempre muito próximo da meta para 2009. O objectivo da UE era descer até às 874 vítimas mortais, o que não se atingiria com as 883 mortes expectáveis no cenário que o PÚBLICO apresentou. Neste momento estão contabilizadas 802 mortes até 2 de Dezembro, ou seja, mais 37 do que no ano passado.

Acima de tudo, Paulo Marques não vê os resultados deste ano como uma inversão numa tendência descendente com uma década. "O ano passado tivemos uma descida anormal de mais de 22 por cento, quando a média dos outros anos ronda os oito. Agora o sucesso de 2006 pesa-nos", argumenta. Atribui o aumento à aleatoriedade dos acidentes e lembra que os números são muito inferiores aos de 2005. Depois realça que os feridos graves continuam a descer assim como os ligeiros. Os últimos dados disponíveis confirmam uma descida de 356 feridos graves (11,2 por cento) e de menos 1020 feridos ligeiros (2,6 por cento).

Acidentes com muitos mortos

O presidente do Observatório da Segurança das Estradas e Cidades, Nuno Salpico, acredita que devido à crise económica muitos estejam a fugir às portagens. "As pessoas evitam as auto-estradas que genericamente são mais seguras e optam por circuitos mais antigos, como as estradas nacionais que têm defeitos gravíssimos de segurança", defende o juiz. "São estradas construídas com condições de segurança para 50 ou 60 km/h e depois é permitido lá circular a 90 km/h", completa Nuno Salpico.

Luís Picado Santos, responsável pela segurança rodoviária no departamento de engenharia civil da Universidade de Coimbra, não considera "extraordinariamente preocupante o aumento do número de vítimas mortais". Na sua opinião este crescimento está sujeito a flutuações que dependem de alguns grandes acidentes.
"Ainda que haja um número de mortes relativamente alto, o efeito daquele acidente com um autocarro na A23 que só de uma vez provocou 16 mortos torna-se significativo", exemplifica o docente.
Apesar de reconhecer que a partir de agora a descida é cada vez mais difícil, Luís Picado Santos considera que ainda há condições para manter a tendência decrescente. "É preciso continuar a apostar na maior consciencialização dos dos cidadãos e numa maior fiscalização", defende. E reconhece que nos últimos anos se evoluiu muito: "Temos melhores infra-estruturas, melhor fiscalização e, em geral, os veículos oferecem uma segurança passiva mais ampla".

Pessoas menos expostas

Carlos Rodrigues, director do Laboratório de Análise de Tráfego, da Faculdade de Engenharia do Porto, considera qualquer aumento "muito preocupante" e lamenta que Portugal ainda esteja acima da média europeia a 25 e muito longe de países como a Suécia ou o Reino Unido, referências neste campo. Depois de uma grande evolução desde 1995, o ano passado a média da Europa (ainda a 25) era de 86 vítimas mortais por milhão de habitantes e Portugal já chegava perto: 91. Seis por cento acima da média, mas muito longe dos 43 da Holanda, dos 49 da Suécia e dos 56 do Reino Unido.
Carlos Rodrigues lembra que desde 2004 que o consumo de combustível tem baixado, o que implica que as pessoas têm estado menos expostas. E avisa: "O principal problema é os cerca de 70 por cento de acidentes dentro das localidades. Até Setembro o número de atropelamentos era superior a 90 por cento."

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Este texto é um tratado, uma demonstração da atitude científica dos especialistas consultados.
Fala-se de "redução anormal em 2005" (porquê ?), de "pessoas que evitam as auto-estradas" (em que medida ?) e de "flutuações que dependem de alguns grandes acidentes" (estamos portanto no domínio do aleatório ?).
Para culminar compara-se Portugal com a Suécia e com o Reino Unido (porque não com a Grécia e a Hungria, não seria mais lógico ?).
Na histeria que envolve os acidentes de viação vale mesmo tudo...

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