sábado, 8 de dezembro de 2007

Lisboa multa mais 50% do que o país

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Em apenas três meses, os radares fixos da Câmara de Lisboa registaram mais 40 mil infracções que a GNR e a PSP em todas as estradas do país. Isto em 2006, dentro e fora das localidades.
Os dados até agora coligidos pela Polícia Municipal entre 17 de Julho e 25 de Outubro dão conta de 129.749 infracções. Segundo as estatísticas da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), no ano passado, foram detectadas 88830 infracções ao limite de velocidade estipulado, ou seja, mais 50%. Se se comparar apenas as multas dos radares da capital com as das localidades de todo o país, a diferença é brutal: sobe para o triplo.


Fazendo as contas pelo valor mínimo das coimas, 60 euros, o valor teórico cobrado seria de 7,7 milhões de euros, Mas a Câmara “ainda não viu nada” lamentou o director do departamento de Tráfego do município, Carlos Pereira, responsável pela gestão técnica dos equipamentos, num debate realizado no Instituto Superior Técnico sobre os radares de Lisboa. Segundo a lei, só no ano seguinte o Estado faz a distribuição das multas e a Câmara recebe 30%. A ANSR não respondeu ao pedido do Expresso para saber o número de coimas que já foram pagas.


Numa mesa que prometia polémica, com o o presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP), Carlos Barbosa, e os professores do IST José Manuel Viegas, especialista em urbanismo e transportes e João Dias, perito em simulação de acidentes, aquele quadro superior da CML reconheceu que “alguns radares não estão nos locais mais adequados”.


Na opinião de Carlos Pereira, “vão ter que ser instalados mais radares em algumas vias, como a 2ª circular, ou a Infante D. Henrique, para que se consiga obter uma velocidade baixa constante”. No entanto, “como não há dinheiro para comprar mais radares, vamos ter de os retirar de outra ruas”. Não adiantou quais, até porque, essa correcção está neste momento a ser avaliada por uma comissão nomeada pelo presidente da autarquia.


Carlos Barbosa disse que concorda com a utilidade dos radares na redução de velocidades, muito embora estes “tenham sido colocados sem qualquer critério”. E provocou: “Os lisboetas têm um grande azar em ter o dr. António Costa como presidente. Já quando estava no Governo não tinha a menor sensibilidade para a segurança rodoviária. ‘Desviou’ dinheiro da prevenção para comprar pistolas para as polícias”.


José Manuel Viegas destacou a “mudança psicológica que já se nota na atitude dos condutores”, a qual “só por si, já é sinal de sucesso dos radares”. Viegas defendeu até uma diminuição de velocidade em algumas zonas residenciais para os 30 km/hora.


Uma posição que foi ao encontro das preocupações do colega João Dias. coordenador do Núcleo de Investigação de Acidentes. As simulações feitas pelo seu departamento mostram que um peão atropelado a 30 km/h tem 80% de hipóteses de sobreviver. Essa esperança reduz-se para 50% se o carro circular a 45 km/h e para zero, se a velocidade for de 80 km/h.

De acordo com as investigações do seu departamento, deviam ser colocados radares noutras vias, que concentraram grande parte dos acidentes graves da cidade: as avenidas 24 de Julho, Almirante Reis, da Liberdade e da República.


Este encontro está inserido num ciclo de debates promovido pela Associação de Estudantes do IST, em parceria com o Expresso. O próximo será dia 18, sobre o novo aeroporto de Lisboa e o TGV.

Valentina Marcelino, Expresso 8 de Dezembro 2007


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A verdade é que se desconhecem ainda os efeitos, para o bem e para o mal, da instalação dos 21 radares de Lisboa. A petição on-line que recolheu mais de 10.000 assinaturas não deixa margem para dúvidas: os cidadãos não aprovam os radares pelo menos nos locais, e com os limites de velocidade, actuais.
O atropelamento na Infante D. Henrique, junto ao Terreiro do Paço, mostrou que não basta ter um radar cobrindo 100 metros numa avenida com dez kilómetros. Mesmo que os 21 radares de Lisboa fossem todos postos na Infante D. Henrique não podiam garantir os 50km/h em toda a sua extensão.

As medidas deste tipo só servem para se fingir que se está a fazer alguma coisa e escapar à pressão brutal dos media que vampirizam sempre qualquer desgraça.

O trabalho sério de pesquisa das causas e procura/invenção de soluções fica para as calendas. No caso do autocarro sinistrado na A-23 já anunciaram que talvez só daqui a 8 meses se conheçam as causas do acidente.

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