domingo, 5 de agosto de 2007

A doutrina divide-se

Expresso
17 Julho 2007

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A doutrina divide-se
Cristina Pombo


Reduzir a sinistralidade é um dos motivos evocados pela autarquia da capital para a instalação de radares. Picado Santos, coordenador de um estudo sobre Segurança Rodoviária nas Zonas Urbanas, corrobora esta tese. Nunes da Silva, professor no Instituto Superior Técnico, contesta.




A instalação de 21 radares na capital, a funcionar em pleno desde as 9h de segunda-feira, é encarada pela Câmara Municipal de Lisboa como uma medida de segurança rodoviária.
A presidente da Comissão Administrativa da autarquia, Marina Ferreira, diz que “os radares são necessários à cidade”, uma preocupação que o especialista em transportes Fernando Nunes da Silva considera legítima, mas “aplicada de forma completamente arbitrária”.
O professor de Urbanismo e Transportes do Instituto Superior Técnico defende que há outras formas de controlar a velocidade nas principais vias da cidade, entre as quais o recurso a semáforos.
“Não era necessário ter ali o radar. O importante era condicionar a velocidade com programação dos semáforos”, explicou, referindo-se ao controlo existente na saída da auto-estrada de Cascais para Caselas, numa via onde já existem quatro semáforos.
Nunes da Silva critica o facto de terem sido feitas limitações “sem qualquer nexo ou coerência”, ao invés de variarem de acordo com as condições existentes, quer se trate de zonas residenciais, de atravessamento ou de perigosidade.
Sinistralidade em Lisboa em estudo
Os radares podem demover os condutores dos veículos de usarem velocidades elevadas e contribuir para a “acalmia do tráfego rodoviário”. A afirmação é de Luís de Picado Santos, investigador do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), que tem uma opinião diferente em relação à utilização de radares nas zonas urbanas.
Picado Santos afirma que “os eixos onde foram instalados os radares são os mais utilizados e onde a incidência de sinistralidade tem tendência a ser maior”, o que permitirá reduzir não só a quantidade e a gravidade dos acidentes, como o número de mortos e de feridos graves.
O investigador coordena um estudo sobre Segurança Rodoviária nas Zonas Urbanas, com conclusão prevista para Dezembro de 2008. A investigação incide sobre as ocorrências da sinistralidade rodoviária, entre 2004 e 2006, na cidade de Lisboa e visa identificar as zonas que devem ser alvo de intervenção na infra-estrutura física, para melhorar a canalização do tráfego automóvel através de uma sinalização mais eficaz. “Devemos contribuir para aumentar a percepção que o condutor tem de como usar as vias rodoviárias e assim diminuir a ocorrência de acidentes”, sublinha Picado Santos.
O investigador não descarta a hipótese do estudo vir também a avaliar a localização dos radares actualmente em funcionamento na capital, bem como sugerir a instalação de mais aparelhos.
Outro dos objectivos do estudo é desenvolver um modelo de previsão de acidentes que permita identificar quais as zonas mais perigosas ao nível da segurança rodoviária.
A investigação da FCTUC conta com a colaboração do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e da Câmara Municipal de Lisboa, com a qual foi estabelecido um protocolo em que o município se “disponibilizou a aplicar o estudo assim que este estiver finalizado, no sentido de melhorar a rede rodoviária da capital”, referiu Picado Santos.

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