Diário de Notícias
13.01.2009
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O número de mortos em Lisboa em resultado de acidentes de viação ocorridos nos locais onde existem radares de controlo de velocidade aumentou em 2007, ano em que os aparelhos foram instalados. Nesse período registaram-se seis mortos, mais dois do que em 2006, quando era inexistente qualquer controlo.
Os dados são da Comissão de Avaliação do Sistema de Controlo de Velocidade e Vigilância do Tráfego de Lisboa que reúne hoje para propor a aprovação de zonas da capital onde o limite máximo de velocidade seja de 30 Km/h. Desta reunião deverá sair também a proposta para que os sinais verde e vermelho alternem nas avenidas para evitar a velocidade.
A comissão fez o levantamento dos sinistros entre Julho de 2005 e Junho de 2008 e constatou que, num conjunto de 12 das vias com radares, houve quatro mortos em 2006/2007 e seis em 2007/2008, ano em que aqueles equipamentos entraram em funcionamento. Ou seja, quando os radares ficaram operacionais ocorreram mais dois acidentes mortais. Relativamente aos feridos graves, houve uma diminuição. Naquele primeiro período registaram-se 34 e no segundo 22.
Para Fernando Penim Redondo, membro da referido grupo de trabalho, os números revelam que a sinistralidade piorou na cidade de Lisboa. "Esta comparação de três anos sucessivos não permite atribuir aos radares qualquer efeito positivo no número e gravidade das vítimas", disse ao DN. Por outro lado, "a redução dos feridos graves - de 2005-2006 para 2006-2007 (menos 45) e de 2006-2007 para 2007-2008 (menos 12) - mostra que outros factores actuavam já, antes da instalação dos radares, no sentido de uma queda acentuada", acrescentou.
Aposta errada
Fernando Penim Redondo admite que, em termos estatísticos, a longo prazo, esta análise possa ser relativizada. No entanto, considera errada a aposta no controlo da velocidade para evitar a sinistralidade no interior da capital. "Qualquer pessoa compreende que, mesmo quando se verifica uma redução da sinistralidade, o que não foi o caso, ela pode nada ter a ver com os radares, pois há outros factores em jogo. Por exemplo, as distracções ou doenças durante a condução, a quantidade de veículos em circulação e mesmo os factores climatéricos", explicou.
Em consequência, para o interlocutor do DN, "os radares fixos de controle de velocidade parecem ter um custo demasiado elevado para os cidadãos, quer sob a forma de impostos quer sob a forma de multas, à luz dos resultados disponíveis".
Relativamente à proposta, "sensacionalista", de haver zonas em Lisboa que vão passar para um limite máximo de 30 km/h, Fernando Redondo garante que se vai bater pela sua reprovação. "Quando faltam os estudos prévios eles são muitas vezes substituídos por campanhas de sensacionalismo", afirmou, acrescentando: "No que toca aos radares, caso exemplar, a sua introdução não foi precedida de uma fase preparatória em que se recolhessem dados sobre os acidentes nos locais de implantação por forma a permitir, agora, avaliar melhor os resultados."
Fim da onda verde
A proposta de redução para 30 km/h deverá ser hoje aprovada em reunião da Comissão de Avaliação do Sistema de Controlo de Velocidade e Vigilância do Tráfego de Lisboa. Em cima da mesa está também a proposta de acabar na cidade com a "onda verde". Actualmente quando, no início de uma avenida surge o verde, os seguintes sucedem-lhe para evitar a interrupção constante da marcha. Ora, a comissão acha que isso fomenta a velocidade e vai propor a alternância entre verdes e vermelhos, obrigando os automobilistas a parar a meio.
Para Fernando Redondo, é uma medida que a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados quer impor à comissão, depois de a ver rejeitada noutras instâncias. "Os cidadãos deveriam ser consultados", disse, frisando: "Desconheço a relação destas medidas com a eficácia dos radares."
O DN pediu esclarecimentos sobre este assunto à Câmara Municipal de Lisboa, mas não obteve resposta em tempo útil.
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Esclarecimento: os dados e o quadro apresentado no artigo não são da "Comissão de Avaliação dos Radares" mas sim resultado de um apuramento feito por mim e já publicado neste blogue. Aproveito para informar que a Comissão não aprovou na reunião de hoje qualquer proposta relativa às "zonas 30" ou à "onda verde". Em breve explicarei o que foi proposto pela ACAM e rejeitado nesta reunião da "Comissão de Avaliação dos Radares".
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