terça-feira, 29 de março de 2011

Radares e suspeitas de corrupção

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Porto Alegre/Manaus Empresas de radares que doaram dinheiro para campanhas eleitorais em prefeituras de capitais brasileiras são investigadas por suspeita de favorecimento indevido em licitações. As companhias são contratadas para monitorar o trânsito e aplicar multas. Nos últimos dez dias, as prefeituras de Aracaju (SE) e Curitiba (PR) suspenderam contratos em vigor, enquanto o governo gaúcho cancelou a licitação em andamento.

Em Manaus, a empresa paulista Consladel, que doou R$ 75 mil para a campanha de Amazonino Mendes (PTB) em 2008, venceu licitação de R$ 92 milhões. Em 2009, 11 empresas compraram o edital da licitação, mas a única a apresentar a proposta foi a Consladel.

"Foi uma licitação-alfaiate, que serviu exatamente para favorecer a Consladel. "O contrato é um escândalo", afirma o deputado estadual Marcelo Ramos (PSB).

No Paraná, o Ministério Público instaurou investigação sobre o contrato entre a Prefeitura de Curitiba e a Consilux Tecnologia. A empresa recebia R$ 725 mil por mês. A Consilux operava os radares da cidade desde 1999, mas o último contrato foi assinado em fevereiro de 2010, quando o atual governador do Estado, Beto Richa (PSDB), era prefeito. O contrato foi rescindido pelo sucessor e aliado de Richa, Luciano Ducci (PSB), no dia 15 de março.

Cancelamentos de licitações e suspensões de contratos ocorreram após reportagem do "Fantástico", da TV Globo, mostrar representantes de empresas discutindo direcionamento de concorrências e pagamento de supostas propinas.

No Rio Grande do Sul, o chefe do setor de radares do Daer (autarquia estadual de estradas), Paulo Aguiar, está preso. Ele foi apontado como dono de uma empresa ligada à suposta fraude. O governo Tarso Genro (PT) afastou o funcionário e suspendeu uma licitação.

A assessoria do prefeito de Manaus disse que a licitação foi legal e que a única empresa a se habilitar foi a Consladel. Segundo a prefeitura, o valor de R$ 92 milhões é uma estimativa, e o gasto pode não se concretizar. A assessoria negou ainda relação entre a vitória da Consladel e a doação de campanha eleitoral.

Por sua vez, a empresa disse que a licitação obedeceu à lei e negou relação entre a vitória e a doação registrada na Justiça.

O presidente da Urbs (estatal de trânsito de Curitiba), Marcos Isfer, disse que apoia a investigação da Promotoria e afirmou que o contrato com a Consilux foi rompido porque a "empresa perdeu credibilidade" .

A Prefeitura de Aracaju defendeu a legalidade dos contratos com as empresas Eliseu Kopp (RS) e Splice (SP) e disse que a suspensão foi preventiva. As empresas não comentaram a suspensão dos contratos em Sergipe porque, segundo elas, ainda não foram notificadas.



Diário do Nordeste, 29.03.2011


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A proliferação fenomenal de radares no Brasil pode afinal não ser tão inocente quanto parece. A prevenção rodoviária tem as características ideais para constituir o disfarce de propósitos inconfessáveis.


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