quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Falhas põem os radares em xeque

Jornal da Cidade de Bauru
27.08.2008


Faixas de trânsito sem monitoramento, defeitos na medição e erros na operação formam ‘roleta russa’ nas ruas.
O funcionamento de radares e lombadas eletrônicas em Bauru não trata todos os motoristas com igualdade, não monitora todas as faixas das vias e permite a operação com falhas gritantes no sistema e nas instalações. O monitoramento eletrônico de velocidade, implantado no município em meados do ano 2000, deixa graves brechas que colaboram com a impunidade e desconsidera a aplicação de isonomia entre os que circulam pelas principais vias da cidade.

O JC apurou a fragilidade na operação, na forma de instalação e obediência ao contrato de monitoramento através do acompanhamento técnico e do funcionamento do sistema nos últimos 20 dias. As questões levantadas na reportagem foram informadas à Emdurb na última sexta-feira, um dia depois da mudança efetuada em equipamentos em razão do sistema de rodízio, onde cinco radares funcionam ao mesmo tempo, em detrimento a outros 12 que permanecem desligados.

Radares de mentirinha

A maioria dos bauruenses sabe que os radares fixos funcionam em sistema de rodízio em Bauru. O problema é que a escolha pela forma de instalação dos equipamentos contratados é falha, permitindo a identificação dos endereços que participam do sistema e dos que estão completamente desligados, servindo de verdadeiros ´espantalhos´ nas ruas.

Dos 17 pontos de radares fixos existentes, em 11 deles a Emdurb não instala componentes como flash e câmeras (conjuntos óticos). Nesses locais, significa que a política de gestão pública de monitoramento do trânsito escolheu instalar apenas postes, os ´espantalhos´ do trânsito.

Um exemplo: até a quinta-feira da semana passada apenas o radar da quadra 46, sentido bairro-Centro, da avenida Nações Unidas estava em condições de flagrar infratores. Os equipamentos das quadras 42 e 35, por exemplo, eram apenas ‘espantalhos’.

Antes do final de semana, a Emdurb retirou o conjunto de flashes e câmeras da quadra 46 da avenida, lado ímpar, e o deslocou para a quadra 35, no mesmo sentido.

Independentemente do funcionamento por rodízio, a resolução da questão é objetiva: instalar conjuntos óticos em todos os radares a fim de impedir pelo menos que o motorista saiba quando um equipamento está ou não em operação. Nem se discute aqui a possibilidade de identificar a homologação através do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) e a verificação dos leds (luz) acesos.

Erro de operação

A Diretoria do Sistema Viário (DSV) da Emdurb escolhe quem deve ser flagrado na quadra 17 da avenida Nações Unidas, lado par, sentido Centro-bairro. Em detrimento ao princípio da isonomia na aplicação das regras de trânsito, o radar instalado neste endereço não registra a velocidade daqueles que trafegam pela terceira pista, à direita, próximo ao posto de combustível.

Ao invés de fazer cumprir todas as exigências estabelecidas pela própria Emdurb no item 1.3.1 do edital de licitação, a situação permite que a locadora dos equipamentos opere com duas câmeras e dois flashes para uma via com três faixas de trânsito.

Mas o contrato estabelece que devem ser monitoradas as vias em intervalo mínimo de 0,5 segundo em todas as faixas, inclusive com dispositivo antiofuscante para operação noturna.

Privilégio para motos

O registro de velocidade adotado em Bauru permite que motos não sejam registradas em bem mais da metade da área útil da pista onde estão tanto radares quanto lombadas.

A área de sensores, chamada de laços e instaladas em material de cobre no asfalto, abrange não mais que 70 centímetros em cada faixa. Em um ponto da Nações Unidas, por exemplo, a via está descoberta de qualquer registro de velocidade para motos em mais de 70% da largura de 8,20 metros (conforme croqui do edital). Isso permite a infratores potenciais fugir do monitoramento.

Em algumas cidades, a extensão dos laços de cobre abrange quase toda a largura. Mas a Emdurb alega que esse sistema gerava muitas perdas de registro até o ano passado, quando a empresa optou por reduzir a área dos sensores apenas para espaços na pista - laços de cobre mais grossos e curtos impediriam repiques (conflitos de registro de velocidade).

Defeito nas lombadas

A escolha por áreas de laços instalados no piso sem cobertura de toda a largura da pista (gerando ‘buracos’), associada a outros fatores técnicos, gera um problema não menos grave: o registro de velocidade não ocorre quando os pneus dos carros tocam, ao mesmo tempo, os laços (cobres) das duas faixas da pista. Ou seja, é possível passar pelas lombadas sem registro de velocidade.

A confirmação da falha no sistema, talvez provocado pelo conflito entre os dados que chegam às CPUs, pode ser feita facilmente nas lombadas tanto da avenida Nações Unidas quanto da rua Wenceslau Braz. Detalhe: na rua da Vila Falcão, a lombada, desde a origem, é verdadeiro obstáculo na pista e a demarcação de taxões na rua deixa um vazio nas laterais.

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Posição da Emdurb

Os equipamentos e o sistema de medição eletrônico de velocidade em Bauru são inspecionados pelo Ipem. Assim, todas as alterações de formatos de laços no piso e todas as trocas de equipamentos em função do rodízio precisam passar obrigatoriamente pela avaliação do órgão.

O contrato inicial firmado pela Emdurb com a prestadora de serviços, entretanto, limita o rodízio para vias com quatro conjuntos óticos (nos dois sentidos) e com dois equipamentos em não mais que 9 e 20 modificações, respectivamente.

Outro problema é de acabamento. Em vários dos pontos pesquisados pelo JC, os laços de cobre estão expostos na pista e os cordões de proteção soltos. O presidente da Emdurb, Carlos Barbieri, prometeu verificar a situação e corrigi-los.

Quanto às falhas e incongruências levantadas, o presidente da empresa considerou que as questões não geram a necessidade de intervenção. Barbieri também defende o fim do rodízio e considera que o mecanismo mais eficiente é o que permite o funcionamento 24 horas de todos os pontos de fiscalização. “Não tem nada de ilegal. Os equipamentos estão dentro das normas legais e homologados e eu não vejo ilegalidades. O rodízio é falho, mas foi feito assim desde o início. Eu defendo funcionar em todos os pontos. O que foi levantado não gera problemas na fiscalização. Não vou mudar nada”, resumiu.

O diretor do Sistema Viário, Nelson Lira, foi convidado a percorrer os pontos e discutir os problemas com a reportagem, mas preferiu não se manifestar.

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Mais uma notícia sobre o "mau ambiente", e as trapalhadas, que a proliferação de radares de trânsito no Brasil vem provocando

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